A Troca de Bandeiras
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Levantou-se cedo, conforme o combinado, na noite anterior, com seus familiares. A mulher já estava na cozinha, preparando o café.
Depois de tomar o seu banho, arrumou-se e foi despertar as crianças. - Vamos, gente! Já estamos atrasados! Não podemos perder o espetáculo!.
Era o primeiro domingo do mês. E, como de costume, em Brasília, na capital do país, acontece a cerimônia de troca de bandeira. O espetáculo cívico já faz parte do roteiro turístico da cidade.
É muito bonito. A bandeira, símbolo nacional, que fica sob a guarda especial do Exército, Marinha ou Aeronáutica, na Praça dos Três Poderes, tremula ao vento- e às intempéries - durante trinta dias, quando é substituída por outra, bem novinha, pela guarda de honra militar.
Geralmente, a troca é precedida por uma encenação teatral, enfatizando o rico folclore brasileiro. Grupos de jovens atores apresentam variados espetáculos: bumba meu boi, grupos de cangaço, danças caipiras, sulistas e até tribos indígenas, enfim, compõem os detalhes da festa e da cultura brasileira.
Em volta do mastro, a população agrupa-se em círculo. Famílias de todos os níveis e classes sociais, oriundas de todos os recantos do país, formam significativa amostragem do homem brasileiro, que, entre a curiosidade e um pouco de sonolência, por parte das crianças, assistem, com grande interesse, às apresentações.
O espetáculo termina, quase sempre, ao som do Hino à Bandeira, enquanto a população repete, ao som da banda de música, no canto de seus lábios, o canto em homenagem ao nosso lindo pendão da esperança.
Neste momento, a bandeira brasileira, em bom estado, substitui a anterior, já desgastada pelo tempo, que sobe devagar, pelo mastro que lhe dará sustentação, até chegar ao seu ponto mais alto. Ali, é presa e amarrada, voltando a tremular sob os céus azuis de Brasília, como que anunciando o símbolo augusto da paz, que se eterniza, de trinta em trinta dias, até a próxima troca.
Neste domingo, no entanto, aquele pai de família, que acordara cedo, ficou estarrecido com o espetáculo.
Quase próximo ao término das comemorações, curiosamente, resolveu olhar para a multidão em sua volta. E teve a nítida impressão de que todos estavam com seus rostos estranhos. Traziam, no rosto, a expressão do medo e do pavor. Velhos e crianças pareciam tristes com o espetáculo.
Foi quando resolveu olhar para cima, em direção ao pico do mastro, e pode ver, com surpresa, que a bandeira que ali se fixava possuía cores bem diferentes da que estava acostumado a ver. Não tinha nem o verde e nem o amarelo. No seu lugar, estranhamente, aparecia a cor vermelha. Vermelho, azul e branco!....
Pensou em mil coisas ao mesmo tempo. Estaria sonhando? Em que país estaria? Nos Estados Unidos? E se fosse, que mal haveria? Afinal, a América é uma grande nação. Nossa eterna amiga; e os americanos são nossos aliados, como sempre.
O único problema, talvez, que lhe passava pela mente, fosse o medo de que algum presidente americano resolvesse, alegando qualquer pretexto, invadir nosso território.
Neste momento, o filho menor puxou-lhe pelo braço: - Papai! A festa acabou! Vamos embora! Mamãe já fotografou a nova bandeira. É linda! Verde, amarela, azul e branca. Com tons avermelhados, é bem verdade.
Por causa dos raios do sol que se faziam constantes naquela bela manhã.