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Contos Pequeninos do Inconsciente
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Tinha os olhos trocados. Olhava para as pessoas como se quisesse que elas não percebessem. Seu olhar, a rigor, era contra. Contra o seu foco. Contra o governo. A favor do povo.
Usava óculos de perto, para enxergar bem longe. E óculos de longe, para enxergar bem perto. E às vezes não via nada. Ou se via, não gostava. Mantinha-se calado.
Era um sujeito muito fresco. Tinha, no carro, em casa e no escritório, sempre ligado, no mais alto grau, o ar condicionado.
ANÚNCIO CLASSIFICADO – Vendo crases em bom estado de conservação. Próprio para quem não se preocupa com o conteúdo dos textos literários. Excelente para o acasalamento e reprodução de criadores de casais de artigos e de preposições da raça “A”. Bom negócio para revenda. Tratar com Domingos.
Queria escrever algo engraçado. Que provocasse sorrisos. Mas estes não se fizeram grassar. Graças, talvez, ao tom irônico e ao mau humor incontido. Ou, quem sabe, por não ter encontrado, no seu teclado, um cedilha que fosse. Todos foram usados contra os seus pretensos inimigos. Domingos.