Usina de Letras
Usina de Letras
110 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62326 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22542)

Discursos (3239)

Ensaios - (10406)

Erótico (13576)

Frases (50707)

Humor (20051)

Infantil (5473)

Infanto Juvenil (4793)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140841)

Redação (3313)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6219)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->As Flores do meu Campo -- 28/04/2003 - 21:40 (Robison Stemberg) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
I

Ao chegar em casa, Sérgio ouviu a notícia:
_Vá tomar banho logo, pois seu chefe vem jantar aqui em casa hoje.
_Mas mãe, o quê que aquele pulha quer aqui?
_Olhe o respeito com o senhor Antunes, seu moleque, chamou a mãe a atenção do filho. Ele vem aqui para pedir a mão da sua irmã em namoro.
_O quê!? eu ouvi bem? Então o senhor Antunes está de olho na Rosinha? Ah! então é por isso que aquele escroque estava me tratando melhor esses dias.
_Eu já disse para ter respeito com ele. Talvez ele entre da família e seja em breve teu cunhado...
_E a senhora acha isso certo? Aquele velho não faz um ano que enviuvou. Que vergonha!
_Não tem nada de mais. Ele é um bom sujeito, tem muitas posses, e vai conseguir fazer sua irmã feliz.
_E a doença dela? Todo mundo sabe que a Rosinha tem problemas mentais graves, minha mãe. Será que o safado não se importa com isso?
_Ele não é nenhum safado, disse a mãe já perdendo a paciência. Não sei por que você implica tanto com o seu patrão, se foi ele que te deu emprego, mesmo você não sabendo nem redigir um ofício...
_Provavelmente o canalha já estava com tudo planejado...
_Mal agradecido! Vá para seu quarto!
Sérgio foi. Entrou no seu aposento e pegou a foto na qual ele a irmã estavam juntos, numa viagem para a casa dos tios no interior. Seus pensamentos retrocederam dez anos, quando aquela menina da foto não precisava de remédios e nem de um namoro; era apenas sua menina.

II

Foi o pior banho da sua vida. Pelo menos era o pior que ele se lembrava. A água descia do chuveiro pesada, como se um átomo a mais de hidrogênio a tivesse estragado. O cheiro do líquido certamente estava diferente. O banho não durou nem três minutos.
Aquela noite, se pudéssemos entrar nos pensamentos do jovem Sérgio enquanto ele se banhava, acho que poderíamos saber que ele estava pensando: "Maldito seja! Com tantas mulheres no mundo, justo a Rosinha? Biltre! O pior é que minha mãe está encantada pelas posses do canalha. Pobre Dona Hortência; a culpa não é toda dela. Onde está meu pai, onde? Nunca o conheci; foi embora quando soube que minha mãe estava grávida e só voltou um dia, ou melhor, uma noite; quando eu tinha dois anos e estava na casa da minha falecida avó. Veio e deixou minha mãe grávida novamente. Grávida de Rosinha".
Sérgio foi puxado à realidade quando ouviu a voz de sua mãe que o avisou:
_Sérgio, seu patrão está aqui!
É uma pena que não possamos saber o que ele pensava.

III

Voltou a si com outro grito de sua mãe:
_Sérgio, seu patrão está aqui!
_Já estou indo, respondeu com uma voz desanimada.
Ao sair do seu quarto deu de cara com Sr. Antunes sentado no sofá, e sua mãe fazendo sala envergonhadamente.
_Ao quê devemos a honra da sua visita, Sr. Antunes?, Perguntou sem esconder uma ponta de ironia.
_Achei que sua mãe já tivesse lhe dito o motivo sa minha visita...
_A sim, ela disse, interrompeu Sérgio. É que não achei que fosse sério.
_Pois se enganaste, rapaz. Nunca falei tão sério na minha vida. E você sabe que eu sempre falo sério.
_Sim, eu sei.
_Mas o que acha do proposto?
_E minha opinião conta? perguntou Sérgio sentando-se também no sofá.
_Não, não conta, interveio Hortência, já supondo a resposta de seu filho.
_Por mim esse casamento nunca acontecerá, disse Sérgio.
_Por sorte minha essa decisão não é sua, não é mesmo Dona Hortência?
_Sim Senhor.
Foi então que Rosinha saiu de seu quarto. Estava mais linda que nunca. Com um preto vestido novo, sua cútis clara se fazia ainda mais bela, apesar dos remédios, que lhe roubavam um pouco do frescor. Sorriu delicadamente a todos, o que deixou antever em sua boca seus belíssimos dentes alvos, que mais pareciam teclas de um piano novo. Sérgio não pode deixar de olhar à irmã com surpresa e desapontamento: ela tinha se preparado especialmente para aquele dia. Foi aí que a empregada chegou à porta da sala e anunciou com uma voz quase solene:
_O jantar está servido!

IV


Logo que o Sr. Antunes foi embora, Dona Hortência disse para Sérgio:
_Sérgio, eu quero conversar com você!
_Se for sobre esse enlace, eu acho que nós não temos mais nada para conversar, respondeu Sérgio já se dirigindo ao seu quarto.
_Temos sim, senhor, respondeu Dona Hortência, como é que amanhã você vai encarar seu patrão?
_Do mesmo modo de sempre!
_Para você é tudo muito fácil, meu rapaz. Mais dias ou menos dias acabarás arrumando um rabo de saia, se casa, e deixará aqui na miséria eu e tua irmã. Seu egoísmo é realmente desencantador. O quê seria de Rosinha se ele não se casasse agora meu espertíssimo? Responda-me! O quê tanto te incomoda no Sr. Antunes?
_Nada me incomoda mais de como é que as coisas estão acontecendo. O Sr. Antunes tem idade para ser pai de Rosinha. Não se esqueça que pelo que eu saiba, ele e meu sumido pai foram amigos. Talvez ele até saiba onde ele está...
_Sérgio, vai para o seu quarto; cansei de ouvir sua voz por hoje!
Sérgio foi para seu quarto. De madrugada, no meio do silêncio que habita a escuridão, ele foi até o quarto de Rosinha. Chegou à porta e sussurrou:
_Rosinha, abre, sou eu, Sérgio.
_Não quero brincar hoje. Estou de mal. Você foi ruim com o homem que cheira lavanda.
Antunes realmente cheirava bem. Talvez até fosse um bom marido para Rosinha. Sérgio voltou para o seu quarto e adormeceu demoradamente.

V

Os preparativos do casamento correram rápido, como acontece quando se tem dinheiro. Em dois meses chegou o dia tão esperado por Antunes, por Dona Hortência, e também por Rosinha. Todos os parentes que Dona Hortência conhecia, e até os que ela não conhecia, estavam na igreja. Dona Hortência estava feliz e radiante. Apenas Sérgio, o irmão de Rosinha, não compareceu. Ele preferiu ir assistir a uma peça trágica famosa que estreava justamente aquele dia no teatro municipal.
No caminho, ele passou por uma loja de arma e comprou uma pistola. Carregou-a calmamente e a guardou em seu bolso, junto com a foto da irmã. Ele pensava mais ou menos assim: "Omnia mea mecum porto". Era seu jeito de sentir menos solidão.
Enquanto isso, no outro lado da cidade, o casamento de Rosinha e Antunes prosseguia conforme a praxe do santo sacramento. Após a cerimônia e a festa, os recém-casados foram para o quarto de hotel reservado anteriormente por Antunes para a lua-de-mel, e iniciaram sua vida de casados. Antunes estranhou que Rosinha não sangrará; e então para ele, tudo ficou claro: "Virgem impura, virgem impura", ele pensava repetidamente. Mesmo assim estava feliz, e ficaria mais feliz ainda com a notícia do suicídio de seu cunhado, ao final do primeiro ato da tragédia, onde o nascimento e morte se encontraram.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui