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Contos-->A ressaca -- 15/04/2003 - 13:08 (Manoel Carlos Pinheiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A ressaca

Dizer que ele acordou com ressaca seria um eufemismo. Cefaléia seria minimizar a intensidade da sua dor de cabeça. Ainda bem que gravidez não é um estado masculino, mas a sensação de implantação de blastocisto na cavidade abdominal era tanta que náusea ou enjôo estavam longe de descrever o que sentia.

Poderia até dizer que acordou, mas mais lhe pareceu que recebera uma paulada na cabeça para sair de algum torpor. Ao abrir os olhos, a luz o incomodou, como se um raio atingisse o seu nervo ótico. Ainda bem que as cortinas estavam semicerradas, com claridade suficiente para perceber o mundo à sua volta, mas sem a intensidade de luz que por certo lhe provocaria a sensação de cegueira.

Pouco a pouco começou a raciocinar. Por mais que tentasse, não conseguia lembrar o que fizera na noite anterior ou como chegara àquele local. Começou a ficar apavorado, mas um pouco mais calmo ao perceber que estava em seu próprio quarto. E como voltara para casa? Nem desconfiava. Vagamente lembrava como a provável noitada se iniciara à saída do trabalho e nada mais que isto. Voltou a ficar apavorado...

Lentamente olhou em volta, evitando qualquer ruído, mas se deu conta que a sua mulher não estava ao lado. Com o esforço de quem tivera os ossos passados num moedor, levantou-se.

Percebeu que o quarto estava com uma arrumação incomum para uma manhã de sábado. Para sua surpresa, havia ao seu lado, na mesinha de cabeceira, um copo d’água e dois comprimidos de aspirina e, surpresa maior, havia um bilhete de sua mulher dizendo-lhe, num tom carinhoso, que deixara o café pronto na copa e que fora à feira comprar camarão e jerimum. Será possível? O famoso prato “camarão na moranga” era típico de almoço de comemoração ou jantar romântico, geralmente a dois. Esmola grande, cego desconfia. O que poderia haver de tão errado?

Banho frio. Não apenas para tentar se recompor, mas principalmente para tentar ficar de “cabeça fria” e raciocinar. No banheiro encontrara roupas perfeitamente arrumadas para ele vestir. Precisava entender o que acontecia ao seu redor.

Embora raras, as suas eventuais bebedeiras provocavam a ira da mulher, além de comoções familiares que pareciam levar o casamento à derrocada. Afinal, “a verdade está no fundo do copo” qualquer coisa que fizesse bêbado, a bebedeira, longe de ser atenuante, era um agravante. Por isto, algo não se encaixava no contexto desta estranha manhã.

Mais ressabiado que cachorro depois de malfeitoria, desceu para a sala: nova surpresa! A mesa posta. Não uma frugal refeição, mas um verdadeiro café colonial. Até água tônica ao lado do balde de gelo e do copo do liquidificador contendo limão já cortado para a limonada suíça perfeita para curar ressaca. E o requinte dos ovos mexidos sobre uma panela com água quente simulando um banho-maria? O bolo-de-rolo, os biscoitos de castanha-de-caju...

Se não lembrasse do início da noitada até pensaria que bebera para comemorar ter acertado sozinho na loteria com o prêmio acumulado por diversas semanas... Faltava conformidade, compatibilidade, congruência aos fatos.

O jornal estava à mão. Ficou na sala lendo e matutando, quando seu filho de dezoito anos chegou. Com o ar maroto de cumplicidade masculina falou:

- E aí pai! O sol estava quente ontem à noite, né?
- Rapaz! Você viu quando eu cheguei?
- Vi... foi um desastre!
- O que houve? Que horas cheguei?
- Por volta das três da madrugada, todo amarfanhado e até sujo de vômito, mais parecia vindo do armagedon...
- E sua mãe estava acordada?
- Estava um siri na lata.
- Como eu acordei limpo?
- Ah! Foi a sua salvação. Mamãe foi tirar a sua roupa imunda e você começou a espernear e dizer que não queria, a gritar para ela parar e, antes de apagar, até suplicou: - por favor moça não faça isto comigo que sou casado!

Manoel Carlos Pinheiro
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