Os prepativos do casamento correram rápido, como acontece quando se tem dinheiro. Em dois meses chegou o dia tão esperado por Antunes, por Dona Hortência, e também por Clarinha. Todos os parentes que Dona Hortência conhecia, e até os que ela não conhecia, estavam na igreja. Dona Hortência estava feliz e radiante. Apenas Sérgio, o irmão de Clarinha, não compareceu. Ele preferiu ir assistir a uma peça trágica famosa que estreava justamente aquele dia no teatro municipal.
No caminho, ele passsou por uma loja de arma e comprou uma pistola. Carregou-a calmamente e a guardou em seu bolso, junto com a foto da irmã. Ele pensava mais ou menos assim: "Omnia mea mecum porto". Era seu jeito de sentir menos solidão.
Enquanto isso, no outro lado da cidade, o casamento de Clarinha e Antunes prosseguia conforme a praxe do santo sacramento. Após a cerimônia e a festa, os recém-casados foram para o quarto de hotel reservado anteriormente por Antunes para a lua-de-mel, e iniciaram sua vida de casados. Antunes estranhou que Clarinha não sangrará; e então para ele, tudo ficou claro: "Virgem impura, virgem impura", ele pensava repetidamente. Mesmo assim estava feliz, e ficaria mais feliz ainda com a notícia do suícidio de seu cunhado, ao final do primeiro ato da tragédia, onde o nascimento e morte se encontraram.
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