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Contos-->O GUARANÁ DO EGOÍSMOS INFANTIL -- 03/04/2003 - 09:25 (José Eustáquio Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O GUARANÁ DO EGOÍSMO INFANTIL


Neste momento em que me disponho, num arroubo de puro saudosismo, a relatar algumas minúcias dos domingos de minha infância, percebo que o “guaraná”, este mesmo que tomamos hoje no balcão de qualquer botequim, em todos as regiões do país, é uma das bebidas que sobrevivem ao tempo, com o mesmo sabor .

No que se refere a outros detalhes como modelos e formatos (hoje se diz “design”) da garrafa, da tampinha e do rótulo, houve sucessivas mudanças. O sabor, contudo, permanece.

Uma determinada marca, há mais de cinqüenta anos atrás, era soberana na fabricação do guaraná. O tempo foi passando e outras marcas foram surgindo e impondo variações quase imperceptíveis ao sabor. Não superaram, contudo, o da marca de então.

Surgiram também vários outros refrigerantes de sabores variados como o da laranja, o do limão e o da uva. Porém, o guaraná permanece e aquela determinada marca ainda hoje é a preferida no mercado, mesmo com a ascensão de outro refrigerante, estrangeiro, de sabor indefinido e cor escura.

A sobrevivência do guaraná, principalmente daquele de marca tão antiga, justifica minhas lembranças das quais destaco uma em especial.

O fato que pretendo comentar aqui aconteceu há tanto tempo que, a bem da verdade, não posso garantir se um dos personagens teria sido eu realmente. Contudo, independentemente de onde ou de quem tenha se originado, trago-o na lembrança, e, pelo conteúdo, tanto do fato como da garrafa de guaraná, acho que vale a pena ser contado.

Todos nós que nos julgamos adultos, principalmente os que estamos no limiar da terceira idade, possuímos as mais gratas lembranças dos almoços de domingo em família. Não importa se fomos crianças numa família abastada ou modesta, ou até mesmo excessivamente modesta como era a minha. Aqueles almoços eram de tal forma aconchegantes e cândidos que, hoje, reconhecemos, tinham algo de mágicos.

Éramos quatro irmãos. Os dois menores ainda não tomavam guaraná. Eram muito pequenos. Somente eu (o mais velho) e meu irmão Valdir sabíamos nos locupletar com o guaraná caçula.

O ritual era, invariavelmente assim: por volta das onze horas da manhã nosso pai, brincando de mágico, fazia surgir, não sei de onde, uma moeda em suas mãos, provocando um brilho cobiçoso em nossos olhos de criança. Já podíamos antever o que viria na seqüência. Ele entregava-me a moeda, fazia um carinho passando uma das mãos em minha cabeça e desalinhando-me os cabelos, ao mesmo tempo em que dizia:

- Vá, meu filho, lá na venda, e compre uma garrafa de guaraná para você e outra para o Valdir.

Minha mãe gritava da cozinha:

- Taquinho, vá devagar, não precisa correr, o almoço ainda vai demorar!

Eu, em minha lógica de criança, jamais conseguiria atender o pedido de mamãe. Saía como um foguete pela rua, saltitante.

O vendeiro, quando via-me espichando o pescoço e tentando olhá-lo por cima do balcão alto, já sabia. Num gesto quase automático recolhia a moeda, apanhava na prateleira duas garrafas de guaraná e as entregava a mim, sem pronunciar palavra.

De posse das garrafas, a minha e a do Valdir, eu fazia o caminho de volta à casa, correndo como sempre e ansioso para chegar, furar a tampinha, tampar o furo com o dedo polegar, sacudir bem a garrafa, levar à boca e tomar o jato daquele líquido espumante e saboroso. A boca, de tão cheia, deixava escapar uma boa quantidade que escorria-me pelo queixo. Era uma verdadeira delícia.

Certa vez, quando fazia o caminho de volta à nossa casa, levei uma queda horrível. Esfolei os dois joelhos e um dos cotovelos. Uma das garrafas se quebrou.

Cheguei em casa chorando copiosamente e, antes que a bronca viesse já fui falando:

- Mãe, eu não estava correndo, mas, tropecei, caí e a garrafa do Valdir quebrou.

Não houve a bronca. Papai e mamãe apenas riram muito. O Valdir não riu! Fez um muxoxo, encolheu-se a um canto e soluçou baixinho.

Não me lembro como ele recuperou sua garrafa. Sei apenas que não deixou de tomar o domingueiro guaraná caçula, com a alegria de sempre.

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