Quarto de Hospital
E lá estava ela. No canto do quarto. Foice de longo cabo na mão direita. Vestida de negro: tecido colante no corpo esguio. O capuz escondendo a face. Impossível, porém, não distinguí-la, contrastando com a paisagem branca. Impossível, porém, não reconhecê-la... pintura de domínio público. Enfim chegara a hora. Nada que essas pessoas, entupindo-me de remédios e aparelhos, pudessem fazer. Ela estava ali, olhando o relógio. Estava ali sem nenhum ódio. Sem nenhuma vingança. Ali, paradoxalmente, a serviço da vida. Vida que se renova sem nenhum pacto possível. Sem nenhuma soma de minutos. Sem nenhum último e patético desejo. E, na maioria das vezes, sem nenhuma despedida.
sidnei olivio
|