Usina de Letras
Usina de Letras
15 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 63256 )
Cartas ( 21350)
Contos (13302)
Cordel (10360)
Crônicas (22579)
Discursos (3249)
Ensaios - (10688)
Erótico (13593)
Frases (51774)
Humor (20180)
Infantil (5606)
Infanto Juvenil (4953)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1387)
Poesias (141317)
Redação (3357)
Roteiro de Filme ou Novela (1065)
Teses / Monologos (2442)
Textos Jurídicos (1966)
Textos Religiosos/Sermões (6357)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Tártaro -- 23/02/2003 - 22:46 (Deivison Cristiano Vespasiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Tártaro

Era uma manhã fria com uma garoa incômoda, ele estava numa rua do centro de São Paulo, com o seu rosto desfigurado - não que fosse feio ou tivesse uma aparência monstruosa – ia caminhando para o local de seu trabalho, não pensava, não ria, sentia a sensação da morte, o cheiro de lixo daquela rua suja perturbava-o, caminhava, caminhava... até que chegou. A porta ainda estava fechada, era uma loja, que vendia qualquer coisa que ele não sabia, não conhecia, não gostava.
Abriram a porta para ele e ele entrou, foi direto como se fosse máquina passou por todos e disse bom dia, chegou a uma portinha de madeira que estava aberta, entrou...
Aquele breu, cheiro de óleo industrial, estantes com caixas cheias de peças, muitas peças de todos os tipos e tamanhos, que ele não as conhecia muito e menos os seus códigos.
Logo veio um cara, um tipo barrigudo e alto, com uma voz irritante, pegou uma caixa tirou uma porção de peças, parafusos de todos os tipos, correias, e tantas mais, jogou tudo no balcão negro sujo de óleo e disse:
- Conte-as, depois anota no papel o número e guarde-as.
Ele acatou as ordens do cara, e começou a contar, suas mãos se sujaram com o óleo que estava no balcão, aquele cheiro de peça ficava na sua roupa, contou todas as correias e engrenagens, mas faltava os parafusos, talvez tivesse uns trezentos ou quatrocentos, contava e recontava, perdia a contagem e recomeçava, e contava, contava... não conseguia pensar em nada, todos aqueles dias de florescimento cultural na sua vida, Camões, Dostóievisky, textos de filosofia, Sócrates, nada mais importava, nada disso servia, uns e outros não cabiam no mesmo.
Aquele estoque, abafado, mau cheiroso, escuro e aquela contagem interminável, aqueles rostos desfigurados passando e falando em voz alta, as vezes rindo, falando de futebol, tudo isso começou a fazer mal à ele, sua cabeça doía, estava trémulo talvez com febre, suava cada vez mais, e se aborrecia com a contagem, não pensava, queria sair dali, contar, contar, sem pensar...
Então parou! E no escuro quarto um retumbante grito saltou de sua garganta:
- Deus, por favor, tira-me do Tártaro!
Todos olharam e começaram a rir, ele parecia um demente, e pôs-se a chorar, chorava, segurando aqueles parafusos e se deitou no chão e começou a vomitar, vomitava sangue, e chorava desesperado. Não chorava pela contagem interminável, nem pelo sono da noite mal dormida, muito menos pelo o cansaço, mas chorava sim pela sua alma que tinha se perdido, se condenado.
É isso que ele merece, ficar no Tártaro, sofrendo com dores terríveis no fígado numa contagem interminável, e depois se afogar na água ardente, é preço que ele paga por não possuir a sensibilidade dos poetas, dos músicos e pintores, por viver na alienação.
E eu... Seu eterno torturador.


Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui