Era uma tarde de verão em 1983. Uma maldita tarde de verão.
Eu saí de casa na bicicleta Monark Monareta modelo 81 (a melhor daquele ano), e desci minha rua em direção à padaria que fica a cerca de 500 metros da minha casa.
Malditos 500 metros.
Na minha mão esquerda, a do freio da roda da frente, segurava as moedas com as quais iria comprar um chiclete de bola Ploc que custava malditos 40 centavos. Era um daqueles que tinham figurinha de tatuagem que bastava usar água ou cuspe para a aplicação. O short Biribol que eu vestia não tinha bolsos, então eu possuía em minhas mãos exatos 40 centavos: 4 moedas de 5 centavos e 2 de 10. Como as segurava na mão esquerda, usaria o freio da roda traseira da minha bicicleta Monark Monareta modelo 81.
Maldito freio da roda traseira da minha bicicleta Monark Monareta modelo 81.
Iniciei meu percurso com baixa velocidade ao que saí da calçada em frente a minha casa. Tudo transcorria bem até eu começar a descer a ladeira que leva à padaria. Minha primeira tentativa de frear a Monark Monareta modelo 81 funcionou. A segunda não. O maldito cabo de aço do freio traseiro arrebentou. Minha velocidade apenas aumentava e aumentava.
Maldita velocidade.
Meu desespero era crescente ao que me aproximava da padaria e sabia que não conseguiria parar. Se eu usasse o freio da roda dianteira teria que largar as moedas e dar adeus às compras.
Malditas compras.
Passei voando pela padaria e me dirigia para a rua principal onde o trânsito era intenso. Tinha apenas 2 segundos para decidir. Levado pelo terror da sombra da morte me empurrando para o fim não hesitei. Atirei longe as moedas e acionei o freio da Monark Monareta modelo 81 furiosamente o que me fez não só parar mas levou-me ao chão me ralando o joelho e minhas mãos no asfalto quente.
Maldito asfalto quente.
Suando frio, voltei a mim e percebi que ao menos estava salvo. Retornei o caminho e tentei em vão procurar as moedas. Perderam-se para sempre. Assim como perdi a confiança na minha Monark Monareta modelo 81 e no sabor do chiclete Ploc. Levantei a cabeça e voltei pra casa sem o chiclete Ploc.
Maldito chiclete Ploc.
Este texto é verídico e é apenas uma tentativa de alertar para os perigos do vício. Quase morri para saciar o meus maus hábitos. Hoje não estou plenamente curado, mas pelo menos uso Trident que não contém açucar.
