Não sei quantas horas fiquei desacordado. Quando abri os olhos vi Luciana. Ela estava preocupada e passava um pano úmido em meu rosto. Fui aos poucos recuperando os sentidos e estava em um lugar que não conhecia. Era um quarto pequeno e abafado. Não havia janela. Um lampião pendurado no teto iluminava parcialmente o quarto e não conseguia escutar som algum. Isto me preocupou mais do que onde estava. Alguma coisa não estava certa e eu não sabia o que era. Perguntei a Luciana onde estava. Ela disse que também não sabia. Disse que um homem misterioso a procurou e falou que eu precisava de ajuda imediata, que não podia demorar. Ela tentou argumentar mas o homem disse que se não fosse naquela hora, podia nunca mais encontra-lo, nem vivo nem morto, que eu desapareceria da sua vida. Pediram que ela fechasse os olhos e que não abrisse até que mandassem. A parte intrigante foi que quando abriu os olhos, ela estava aqui neste quarto, e me encontrou quase morto na cama. Ela não acreditou que fosse real o que estava acontecendo. Era tudo muito irreal. Ela disse que por mais que estivesse doendo, que eu não fechasse os olhos nunca.
Eu compreendi na hora o que estava acontecendo. Por alguma razão que escapa à minha compreensão, este homem que trouxe Luciana até onde estava, sabia como interagir entre as realidades que me prendiam, e por esta razão conseguiram salvar minha vida. Percebi no olhos dela o medo irracional que a dominava. Ela segurava minha mão fortemente e tinha medo de que ela fechasse os olhos e fosse embora. Mas será que iria para a sua casa ou não, e será que entendia o que estava acontecendo? A porta que não havia visto antes se abriu e um vulto entrou. Ele parou perto da cama e colocou sua mão na minha cabeça. – a febre baixou ,ainda bem, pensamos que perderíamos você. Você é uma pessoa especial, predestinado a realizar uma missão importante para a nossa raça. Faremos tudo para que possa concluí-la com êxito, você não sabe o que lhe acontece, todos estes sonhos, os sofrimentos, as duas vidas paralelas, parece tudo uma grande confusão. Mas saberá a verdade na hora apropriada, tudo no seu devido tempo. Eu quis falar, gritar a minha indignação, mas ele colocou a mão nos meus lábios, dizendo que deveria dormir para descansar e que não tivesse medo de fechar os olhos, porque enquanto estivesse dentro do quarto, o tempo não se alteraria, outras leis físicas atuavam naquele lugar, mas somente ali , se saísse pela porta, voltaria a ficar preso entre mundos, que eu tivesse paciência e tudo seria explicado, agora precisava recuperar as forças para terminar minha missão. Olhei para os olhos de Luciana e fechei os olhos. De olhos fechados escutei uma cantilena parecida com uma oração, senti o cheiro forte de defumação exalando pelo quarto, alguém passava as mãos sobre o meu corpo, e falava num dialeto que desconhecia, mas que já tinha escutado alguma vez. Envolvido deixei o sono chegar.