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Contos-->CAROLINA -- 21/09/2002 - 15:30 (Sergio Godoy) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Minha filha morreu e ela viveu apenas dezesseis anos. Minha filha morreu há muitos anos atrás. E eu, depois de todo esse tempo, retorno à cidade onde ela nasceu. A necessidade de caminhar por essas ruas, reencontrar-me com o passado, surgiu depois que fiquei viúva. Armando não era o pai de Carolina. Armando foi meu primeiro e único marido. Nos encontramos quando meu coração estava perfurado pela perca, minha vida vazia, sem direções e energia para continuar vivendo sozinha e sem respostas. Eu já havia me mudado para São Paulo, talvez na esperança de que no anonimato da grande cidade minha trágica trajetória fosse aliviada. Ele foi meu suporte.
Ele foi o homem que renasceu alegria em minha alma, o homem que, com tanto esforço e carinho conseguiu me desviar da loucura. Retornei ao trabalho. Acredito que no olhar de cada garota eu podia ver o brilho dos olhos de Carolina, a vontade mágica de querer saber tudo, a vontade de vida…
Agora, depois de que o tempo soprou em meus ouvidos tantas perguntas adormecidas, venho em busca da última resposta; será que fui suficiente?
A sensação é estranha. A vida da cidade também mudou, nada parou desde que fui embora.
Com certeza novas escolas, novas professoras, novos alunos. A velha geração dorme em silêncio e o passado já é inexistente. A lembrança traz em minha memória fotografias do que fui: minhas brincadeiras de menina, o abraço apertado de minha mãe, as ordens de meu pai, o
primeiro amor. O medo natural de ficar sozinha olhando para um mundo imenso e frágil. E foi no meu último ano de escola que esse mundo tornou-se real. E asim encontro-me deitada em minha cama olhando para as paredes e perguntando a razão de ter sido abandonada por Deus.
Resisti. Com o tempo aceitei que não poderia trazer meus pais de volta, que a morte era algo trágico e sem retorno, que à mim isso existia.
Minha garganta seca. Tudo isso sou eu e apenas eu. Ninguém sabe, ninguém me conhece. Sou apenas uma mulher envelhecida; talvez a tia de alguém, a avó de alguém, visitando a cidade pela primeira vez. Quero gritar, quero perguntar se sabem quem fui…” É, sou eu, a mãe de Carolina! Sim, a menina que hoje poderia ser arqueóloga, pintora, dentista, mulher e mãe. A menina que em meus sonhos, traria netos para me visitar.”Tudo o que perdi e tudo o que conquistei está em minha memória, minha única memória…
E é incrível perceber que a paisagem também mudou; novas árvores, nova ponte sobre o rio que corta o norte da cidade, nova floricultura na entrada do cemitério, novos mortos, nomes que não reconheço. Aproximo-me de você, Carolina, não trago flores mas sim minha promessa. E agora você pode olhar dentro de meus olhos, estender seus braços que eu a protegerei. Minha insuficiência do passado talvez tenha causado dor e pânico, mas nesse momento você pode abraçar sua mãe e saber que estaremos juntas.
Você irá para São Paulo comigo. Colocarei seu nome ao lado de Armando e todos os dias estarei com vocês. Todas as horas em busca de vocês…


(SERGIO GODOY)
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