Ia anoitecendo e a chuva chamuscava quieta, ao som de um sabiá neto, que inssistentemente adoçava a vida amarga.
No País dos miseraveis uma jovem agonizava num canto escuro da esquina. Ela chorava em soluços, já cansada, envolta numa roupa fustigada, sentia dor.
Mais adiante numa parada algumas senhoras de classe assistiam a tudo caladas, desconfiadas... Em preparativos festivos para o dia das mães. E dali julgavam a moça pela sua aparencia, quando perdidas num absurdo, quase dando a sentença o lotação chegou e as levou. Deixando para trás aquela pobre coitada.
Em dado momento ia passando um senhor, que notando tal sofrimento, compadecido entre os sussuros da desconhecida, perguntou:
- Moça! Moça!...O que você tem?! Posso lhe ser útil?!...
E mal conseguindo falar, bastante fraca ela esboçou com os olhos castanhos, algo como ajuda.
Imediatamente o senhor, sem tomar conhecimento de quem era, onde morava, sua procedência, providenciou uma ambulância, que a levou a Santa Casa mais próxima.
Por estar em trabalho de parto entrou na emergência da UTI correndo sério risco de vida...
Bem depois, já uma cinco ou seis horas depois, o senhor quem socorreu ainda esperava na sala de espera.
-Moço! disse o médico. Ele levantou a cabeça e na sua fisionomia podia-se notar a preocupação que escorria em suor.
Você é o pai?! Continuou o médico.
Não! Fui eu que a ajudou! Ela estava no meio da rua gritando de dor!
Meu Deus disse o médico! É uma pena, mas o seu sofrimento já terminou! Ela acabou de falecer.
E o bebê?!
É o outro problema!
Você conhece alguém da família?!
Não doutor!
É meu senhor agradeço-lhe em nome dos homens, mas esse bebê vai ser encaminhado ao orfanato!...
Quando aquele senhor chegou em casa viu a sua filha dizer: mamãe eu amo você e lhe entregou um bouquer de flores, declamou uma bela poesia, enquanto as lágrimas dos que estavam ao redor caiam fazendo par com a noite que acontecia, bem diante dos pensamentos, bem diante do absurdo, bem diante da realidade que se fazia.
Aquela criança, pensava ele, como tantos morrendo por falta de família num Brasil de tanta riqueza e de hipocresias.
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