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Contos-->Vômito -- 24/06/2002 - 00:13 (joão alves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Maciel, bêbado, delirava em quão bom seria se a beberagem virasse esporte olímpico para finalmente ele poder dar motivos de orgulho a mulher e aos filhos com a conquista de uma medalha de ouro, imaginava ainda se tivesse investido cada centavo gasto com a maldita, e podia até mesmo se ver de fraque com rabo de pingüim e fumando charutos através da lente translúcida e fosca de um grande copo de gim. Por vezes sentia- se um estranho dentro do próprio corpo, poderia ser qualquer um e esta sensação era reforçada quando, podre do álcool, Maciel colocava para fora o conteúdo dos seus intestinos. Era ele que ia embora pelo esgoto junto com a janta, com o arroz inchado e os grãos intactos de milho e ervilha. Ia mergulhar num mar disforme, percorrer encanamentos, ver bocetas sentadas no vaso sanitário e ser feliz.
Às duas da madrugada sentia- se num filme de comédia, envolvido por música de negão e dando tapas em bundas de vadias. A zona ganhava ares de asilo para idosos, peitos e sexo por caridade, a efígie da cédula fazia o papel do rosto bonito e do pau grande. Relações simplificadas com mulheres, relações complexas com garrafas.
Ele conhecia o caráter de jogo da vida, sabia todas essas coisas muito bem. Só não compreendia como ele, um hábil jogador, sempre apostava no número errado, sempre escolhia o caminho da esquerda. Maciel o fazedor de merdas número um. Como a vida sóbria era fácil de ser levada quando se estava bêbado, mulheres acessíveis, dinheiro se espichando na conta bancária, amigos fieis, tudo que a realidade habitual lhe negava o etanol lhe dava. Vivas aos russos, aos escoceses, aos cubanos, aos franceses e ao campesino brasileiro, vivas ao carbono e ao hidrogênio.
Segurava o copo contra a luz, como numa brincadeira de ver o que vai dentro de uma bola de vidro. A refração criava um caleidoscópio e Maciel conjeturava vários foda- se a essa poesia. Acreditou no começo da vida adulta, na imortalidade e na segurança de um esforço determinado, de um trabalho árduo, mas as penas da universidade, da família e da carreira pouco deram em retribuição a esta vida empenhada. “Ser advogado num país de merda é um cu!”
Maciel freqüentemente sonhava com uma igreja badalando seu grande sino, então acordava e com uma pancada forte desligava o alarme do rádio relógio. Aquela era para ele a pior hora do dia, uma atração magnética o mantinha preso à cama. Sua vontade, as custas de um sofrimento de besta de carga, tinha que superar esse instinto de inércia. Contava os anos baseado na fachada do prédio em que trabalhava, “... nos tempo em que o edifício era azul”, “quando o pintaram de bege...”, parecia viver um “déjà vu”, um curto circuito dentro da cabeça, sua vida a porra de um disco arranhado. Aos quarenta anos, ele enxergava tudo fora de foco à exceção da garrafa de vodka que era uma espécie de bilhete para um planeta melhor e ao contrário da maioria que tenta apaziguar seus derradeiros impulsos libertários, Maciel abraçou seu destino de bebum como quem encontra a paixão procurada durante uma vida inteira.
Agora com o copo na mão, acessório indispensável, lembrava de “Lucy in the sky” e tentava adivinhar se a puta a sua frente fingiria bem uma gozada, gostava das profissionais sem frescura mas nada muito técnico, nada de trepadas de filme pornográfico ou de mulheres se esganiçando como se fossem torturadas. As gurias dançavam rebolando até o chão, contorcendo- se como se não possuíssem esqueleto, todas elas cartilaginosas e brilhantes como manequins, pintadas como bonecas, replicantes. Maciel de tempos em tempos colocava uma delas sentada no seu colo, passava a mão nos peitos de plástico, escapava de um beijo na boca, negociava um desconto e sem importar a resposta da moça a enxotava com um “passa pra lá puta” e quando fazia isto era da mulher que lembrava, da mulher e de sua professora da quarta série. Não gastaria um centavo com mulheres de terceira, beberia mais duas doses, a miséria de duas doses, e se não encontra- se uma puta de sonhos ele iria embora com a consciência limpa de um santo que resistiu a tentações terríveis.
Nada de mais com a primeira dose, sem mudanças de prognóstico seu destino parecia certo, a imagem da cama com lençóis macios e da sua esposa excessivamente macia acalentavam seu ânimo perturbado pela música, pela fumaça, pelo escuro onírico e pelo copo. Mas na metade da saideira, seu anjo bom foi deposto e Maciel viu- se errando novamente por sentinas cruéis. A puta que o encarava não aceitou o assento das suas pernas e com unhas sanguíneas apertou dentro das suas calças até ele sentir o resto do corpo como um mero apêndice da parte apertada.
- Então, quanto é o programa?
- Cem reais completo, duas horas, sem choro, pagamento adiantado gostosão.
A guria era barriguda, prometera não sair com bagulhos e aquela era um bagulho mesmo ele estando bêbado como um peru de natal. Maciel pensava que teria dado um bom ator, sua vida toda um representar constante. Cena um, rapaz forte e elegante na flor da idade encontra garota cujas mazelas d’uma vida árdua transformaram em meretriz.
- Completo, completo?
Piscada de olhos fatal. Fodeu- se toda a moral.































































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