Usina de Letras
Usina de Letras
144 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62336 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22543)

Discursos (3239)

Ensaios - (10409)

Erótico (13576)

Frases (50720)

Humor (20055)

Infantil (5474)

Infanto Juvenil (4794)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140848)

Redação (3313)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6222)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->A RESPOSTA DA ALMA -- 01/06/2002 - 09:30 (Wesley Nogueira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Alma, o nome dela é Alma, nome que tinha lhe rendido muitas brincadeiras durante sua infância, mas que lhe foi dado num momento de inspiração pelos pais. Filha única e já tardia de um casamento, ela pouco conheceu o pai, um militar rígido e de pouca conversa, que morreu quando ela ainda era criança em um acidente com um caminhão do quartel.

Assim Alma cresceu, completamente ligada à mãe, com quem desenvolveu laços inseparáveis, de uma dependência sem par, tanto que ela cresceu, se formou, conseguiu um emprego, namorou a um e a outro, mas nunca se casou, focou sua vida no trabalho e em conviver com a mãe.

Seu trabalho era o de Secretária Executiva em uma grande construtora, o que junto com a razoável pensão recebida pela mãe, lhe dava um padrão de vida confortável; tinha seu carrinho com o qual ia trabalhar, fazia compras e levava a mãe ao médico, e às vezes aventurava-se a ir visitar uma tia casada numa cidade próxima.

Como fazia todo dia, ela chegou naquela segunda-feira e foi para sua mesa, que ficava na ante-sala da diretoria, deu um oi meio sem graça para o Tonico, o faxineiro que já estava de saída, ligou o computador, tirou as diversas agendas das gavetas e começou a comparar horários e a agendar os compromissos do dia.

Tinha uma certa pressa, pois hoje chegara ligeiramente atrasada por culpa do trânsito, Mas algo diferente lhe chamou a atenção: uma rosa vermelha estava cuidadosamente colocada sobre o teclado do micro, que ficava oculto e era puxado sob o tampo da mesa. Um pequeno cartão pré impresso que dizia: de um admirador secreto.

Ela ficou encantada, sua vida passava por uma contínua carência amorosa, ainda mais nos últimos tempos, quando não namorara ninguém: já passara alguns anos dos trinta, era uma mulher atraente, mas muito reclusa, e a mãe e o trabalho a absorviam em tempo integral.

A cabeça dela estava confusa, quem seria seu admirador secreto? Como era segunda e a rosa ainda estava vermelha e viçosa, só poderia ter sido colocada naquele mesmo dia; olhou para as diversas portas das salas, a sala do presidente, a mais próxima de sua mesa, já estava ocupada, mas o Doutor Otávio era casado e uma pessoa muito séria, seria ele a galanteá-la daquela forma? Pensou no cinqüentão de cabelos meio grisalhos, imaginou como seria ser o caso do presidente, sair com ele na Mercedes prateada, jantar em um local íntimo e depois ir a um motel reservado mas de alto luxo... Não, ela pensou, jamais faria isso, conheço a esposa dele e eles vivem bem, ele não teria coragem, e porque agora, depois de tantos anos de convivência? Mas nesse mundo de hoje, tudo é possível.

Outro que havia chegado era o Dr. Pedro, principal engenheiro da empresa, Descasado há alguns anos, na faixa dos quarenta e tantos, era um homem relativamente bonito, mas ela o achava um tanto rude, acostumado a tratar com peão de obra, estava há alguns meses trabalhando como chefe dos engenheiros, trancado no escritório e revisando projetos da empresa sem sair do computador a não ser para uma, cada vez mais rara, visita às obras em andamento da empresa. Seria o Pedro o admirador? A possibilidade a agradava mais, ele não tinha compromisso sério a não ser por uma voz feminina que ligava vez em quando para falar com ele, mas ela sempre notava, pela duração da chamada, que não devia ser nada sério. Sabia que ele tinha dois filhos com a ex-mulher, que eram bem distantes e não queriam saber dele a não ser pelo desconto da pensão no polpudo cheque depositado por ela todos os meses.

O Tavinho, filho do Doutor Otávio e um dos herdeiros da empresa, recém-formado engenheiro, também já havia chegado. Era um garoto de vinte e cinco anos, que sempre estivera na empresa, como estagiário, por força do pai, não que ele fosse desqualificado, mas carregava o estigma de ser o filho do patrão, aliado a uma certa antipatia da maioria dos funcionários, principalmente dos homens. Deus me livre de ser o Tavinho! Quase disse em voz alta. O garoto tinha uma namoradinha que vivia telefonando, mas ela sabia dos serões que ele promovia com a Regininha do setor contábil, depois do expediente, na sala dele, achava que até o pai dele sabia e fazia vista grossa. A Regininha também não fazia muita questão de esconder que transava com o herdeiro da empresa e até já tinha soltado no cafezinho com as outras meninas que o Audi do Tavinho era maravilhoso e que ele corre demais...

A manhã foi se passando calma, ela imersa em seus pensamentos e olhando a rosa dentro da gaveta. Perto da hora do almoço, lembrou que tinha de ir ao banco movimentar a conta corrente e pagar alguns compromissos, o que deveria atrasá-la ainda mais. Ligou para cada um de seus superiores comunicando o possível atraso.

Nas rápidas conversas tentou detectar algum sinal que identificasse o seu admirador, mas nada foi observado, ela tentou lembrar de alguém mais no escritório que pudesse ter ido até lá, mas não conseguia lembrar de ninguém, quem sabe um dos engenheiros de obra, ou o contador, imaginou e descartou, eles não tinham acesso tão cedo àquele andar.

Saiu para o almoço, entrou no self-sevice e de propósito pulou as frituras e as massas: ela tinha um corpo bonito e compatível com a idade, mas sentia que às vezes o quadril tendia a apertar quando ela vestia as calças mais justas, foi direto para as saladas e até o suco e o cafezinho foram com adoçante, sem direito à torta de sobremesa. O admirador secreto a estava fazendo se cuidar, se sentir mais bonita, mais desejável.

Saindo do restaurante, foi ao banco e, para o seu desalento, encontrou uma fila enorme, que serpenteava pelo salão, tomou lugar no rabo da Jibóia, como dizia o contínuo da empresa referindo-se as filas que enfrentava no dia-a-dia, e ficou por mais de uma hora esperando ser atendida.

Voltou correndo para a empresa, já vinte minutos atrasada, subiu e sentou, ligando para os chefes e dizendo que já havia chegado, puxou a gaveta do teclado e agora havia um bilhetinho, escrito à mão, em letra de forma, de propósito para não ser identificado, Dizia: Alma, se queres saber quem eu sou, escreves um sim ou um não como resposta na parte detrás desse bilhete e o deixa no lugar onde o encontrou... Com sua letra linda e caprichada escreveu um grande Sim, se entusiasmou e desenhou uma flor, outra, parecia uma adolescente nas suas reações, o telefone tocou e a trouxe de volta ao mundo real.

A reunião da tarde tinha de ser organizada, e pelo horário do início ia se estender até o começo da noite, fez alguns contatos telefônicos lembrando os engenheiros de obra do horário da reunião, bateu um memorando interno, respondeu alguns e-mails, e ficou pensando no seu admirador secreto: seria o Dr. Otávio, em toda sua imponência e poder? Seria o Pedro, charmoso em sua rudeza ou seria o Tavinho tentando colocá-la na sua listinha de conquistas? Não importava muito, ela sentia-se profundamente envaidecida, sentia-se poderosa e curiosa; aquilo estava mexendo com ela.

A tarde também passou rapidamente, e os engenheiros começaram a chegar, o contínuo trouxe as cópias da pauta para serem distribuídas, ela abriu a sala de reuniões, colocou a mesinha de café e ligou para a copa para providenciar o café e a água com gelo para o horário da reunião. Após todos chegarem, ela avisou ao presidente do horário e da chegada de todos, sorrindo, convidou a todos a entrarem na sala e fechou a porta, com recomendações de só interromper em caso de extrema urgência.

Segurou algumas ligações e olhou o relógio, já estava na hora de ir embora, queria esperar o fim da reunião, mas não poderia se demorar, pois a mãe sempre se ressentia de sua demora, acabou achando um pequeno pretexto para entrar na sala de reunião, e perguntar ao patrão se poderia dar o expediente por encerrado.

O patrão amavelmente a dispensou e lhe desejou uma boa noite, ela retornou e, olhando para os lados, colocou a resposta no local combinado. Pensou novamente em ocultar-se por perto para ver seu admirador ir buscar o bilhete, mas achou melhor ir embora, desceu e pegou o carro.

Se ela tivesse esperado mais dez minutos, veria o Tonico entrar na sala dela, ainda de vassoura na mão, recolher a resposta, ler, sorrir e guardá-la no bolso.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui