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Contos-->SEMPRE ESTAREMOS JUNTOS -- 27/05/2002 - 02:46 (DENIS RAFAEL ALBACH) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fazia tanto tempo que ele não sentia cair fininha a chuva da janela. Era a primeira vez naquele ano que ele estendia as suas mãos para o alto, tentando segurar os incontáveis pingos da chuva com seus dedos. Seu líquido escorria sobre seus braços, umedecendo, aos poucos, o seu casaco de frio.
Era inverno. As gotas batiam na janela, e Benjamim conseguia escutá-las de repente, num sopro um tanto forte do vento que as conduziam. Ele ria assim como aquela criança que um dia foi feliz e se contentou com um dia de inverno, brincando na calçada, tentando segurar pingos de neve em suas mãos, e delas fazia bolas divertidas com formatos diferentes.
O pequeno garoto, sozinho ali, abria um sorriso também divertido, como uma vez antes, ao paso que se penetravam nele aquelas gotas de chuva fininha. Era inverno. Estava na janela em busca do nada, recolhendo o que viesse. Sentindo ali a magia de uma ação da natureza invadir os seus braços. Benjamim parecia feliz.
Começou a tossir mais forte à medida que as horas se passavam. Devia ser noite? Bem, ele calculou que sim. Estava acostumado com o escuro. Era valente. Sozinho em seu quarto sem nenhum perigo, apesar do medo. O medo de estar só. Uma criança com corpo de adolescente, mas com o medo de uma criança. 14 aninhos, tão frágeis, tão ousados. Diziam-lhe que ele era forte, mas só ele sabia, apesar da valentia com a qual impressionava, que ficava com medo de estar sozinho.
Acho que o escuro lhe invadia. Como nunca! Chegou a desejar em ter alguém ao lado, a fim de que conduzisse seus passos e lhe fizesse companhia na sua vida escura. Ali, naquele silêncio e escuridão, procurava encontrar uma roupa seca para que se aquecesse do frio que chegava. Só ouvia o barulho da chuva fininha invadir sua janela.
Parecia uma noite de suspense. A grande casa, ele trancado no seu canto, pareceu ouvir passos do outro lado. Ficou quieto. Ouviu. Bobas impressões. Espantou-se consigo mesmo por ainda não ter se acostumado a conviver com o escuro.
O grande relógio lá na sala badalou doze toques. Já começava a madrugada. Deitou por baixo das cobertas quentes e começou a orar devido ao seu medo. O medo era sua grande preocupação. Ele o atormentava, ainda que viesse ao pensamento idéias de que tudo eram criações do seu próprio medo. Tentou dormir tranquilo até surgir pelas entradas de sua janela, na manhã seguinte, a luminosidade dos ráios do sol.
Levantou devagar observando o barulho que acontecia na rua. Foi ao seu encontro. Devagar, observando cada passo...
De rápido, naquela rua sem movimento, uma voz gritava acelerada ao seu encontro, e o tumulto. Ouviu o grito apavorado de sua mãe, chamando por seu nome para que saísse do meio da rua. Tarde demais. Uma bicicleta sem freio, louca, bateu sobre seu corpo indefeso estendendo-lhe ao chão, enquanto escutava o gemido forte, ao seu lado, do seu atropelador. Irado, perguntou-lhe em sua fúria por primeiro por que ele não olhava por onde anda.
Benjamim estendeu-lhe sua mão ao alcance do outro, mas ele não a encontrou. Sua mãe chegou ao lado deles, apresentando-lhe ao Tom, o novo vizinho, o seu atropelador, ressaltando a este o problema de Benjamim:
- "Benjamim não enxerga há cinco anos. Um acidente de carro provocou sua cegueira. Não pode ver nada".
Tom deu uma pausa. Um silêncio se escutou no ar. Tinha ficado sem reação. No impacto daquela notícia alcançou a mãe de Benjamim num ato de piedade. Sua bondade e generosidade, ali, naquel instante, os uniram. Levantou Benjamim, sentindo dores, mas pôde conduzir-lhe para dentro da casa deste.
Sentado na cama do quarto junto com Tom, após os curativos feitos por sua mãe, ficaram a sós. Tom chorava inconsolável, arrependido por ter-lhe feito aquela pergunta.
Tom começou a olhar com mais detalhe para as reações e movimentos de Benjamim. Olhava-o com cuidado, admirando a forma com que o garoto cego agia dentro do seu quarto parecendo conhecer tudo, como se tivesse olhos nas mãos.
Tom permanecia quieto, limpando as marcas de dedos em seu óculos e observava. De repente, com calma, Benjamim perguntou-lhe:
- "Por que me olhas admirado? Fica me observando tentando encontrar alguma coisa. O que procura?".
Tom espantado, não soube responder. O garoto continuou: "Pensas que não posso vê-lo? Minha anormalidade me faz enxergar com os olhos da alma. Escuto o silêncio e ele me traduz o que acontece. Posso calcular seus olhares. Descubro você pelo tom de sua voz e pelo seu silêncio. Os olhos de minha alma te enxergam, assim como enxergam qualquer coisa. Não sei seus traços, sua forma, seu rosto, mas sinto sua presença. Minha mão bem pode apalpá-lo e assim conheço você. Agora deixemos tudo e vamos passear pelo cmapo!".
Perto de onde moravam havia um campo cercado de belas montanhas. Deveriam atravessar a floresta que levava a contemplar a beleza do capim verde daquele campo e apreciar o sol em cima dele. Tom e Benjamim foram lado a lado, como se o garoto conehcesse todo o caminho, andando em sua escuridão. Tocou no braço de Tom e lhe falou:
-"Não espante as aves que aqui estão. Deixe-as viverem livres..."
Foi ali, com aquele pedido que Tom pôde ver que havia aves por ali.
-"Vê só, grande Tom, não triasenxergado as aves se eu não lhe falasse, não é mesmo? Garanto que nem enxergou as lebres correrem logo ali na frente, fugindo de um bicho do mato!".
Tom indignou-se pelo modo que a alma de Benjamim enxergava as coisas.
-"Tom, não é necessário olhos se não sabemos usá-los. Por que ainda estás preocupado com a queda que sofremos? Por que lembrá-la? Olhe somente as coisas que vem, esqueça o passado, olhe para frente, pois nossos olhos foram feitos para olhar para frente".
-"Como sabes que ainda penso na nossa queda? Creio que estás machucado. Você vai sarar?".
Benjamim não fez questão de respondê-lo. Tom apenas enxergava o que estava na sua frente, não tinha o dom de avistar novos horizontes, ou recordava os acontecimentos do passado que lhe traziam tristeza.
-"Benjamim, por que não responde? Você irá ficar curado, não é verdade?".
O garoto respondeu-lhe:
-"Não achas que já somos amigos para recitar meu nome inteiro? Pode me chamar de Ben, é mais íntimo, afinal, além de vizinhos somos amigos, certo? Aperta aqui a minha mão!".
E Tom tocou na mão de Ben, seu amigo íntimo, seu vizinho mais próximo e sempre estariam juntos, foi o que Ben propos:
-"Daqui por diante sempre estaremos juntos. Tom, você andará comigo por cada caminho. Será os meus olhos, os meus pés, o meu guia. Sempre estaremos juntos".
Tom sorriu. Seu novo vizinho se tornara seu amigo e Tom cuidaria dele.
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