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Contos-->Marcelo -- 19/05/2002 - 03:23 (Fabio Poletto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Já havia se sentido daquele jeito antes. Marcelo não era feio, não tinha qualquer defeito aparente. Era, como gostava de se descrever, um cara normal. Mas aquele dia, de fato, ele tinha sentido uma coisa estranha em seu peito. Uma sensação quase ultrajante, que apertava seu peito e o comparava, em pé de igualdade a qualquer rato de esgoto. Qualquer desses animais nojentos, com os quais ele mal tivera contato. Aquela sensação, aquele sentimento, misto de angústia, conformismo e ódio, escalava seu peito rumo ao cérebro, e audaciosamente se fazia senhor de quaisquer razões, ousando liderar o caminho que o coração de Marcelo estava prestes a seguir. Um caminho de desilusões, reações desproporcionais e mais, sentimentos vis exacerbados, sentimentos nobres esmagados e sonhos infantis superados e esquecidos. Marcelo não poderia imaginar o que estaria por vir, o que o esperava, como resultado daquele microscópico sentimento, ao qual nem dera muita atenção.

Era uma pessoa racional. Ao extremo, ressalte-se. De choro difícil, não escorreu uma lágrima sequer, no funeral de seu melhor amigo. Acreditava que o choro das pessoas que ficavam, pelas pessoas que se iam, era um sinal do egoísmo da raça humana. Acreditava, ou pelo menos assim o dizia, que as pessoas iam, sim, para um lugar melhor depois da morte. Que, se o derradeiro destino fosse um lugar pior, não faria sentido viver uma vida tão cheia de sofrimentos. “Que grande besteira”, pensava, quando via uma reação desmedida a qualquer ação que fosse - “tudo isso é passageiro, tenha calma”, concluía. Não seria difícil descreve-lo como uma pessoa de bem.

Mas seria Marcelo, enfim, uma pessoa de bem?

Se você acredita que sim, perdoe-me a indiscrição, mas eu, com tudo quanto lhe disse até agora, já responderia que não. Mas, posso estar errado. Muitas pessoas a quem conto essa história, até hoje, insistem em tomá-lo por pessoa boa, dedicada a manter as coisas “como elas deveriam ser”. As aspas da sentença anterior se justificam porque cabe aqui uma ressalva absurda: Como deveriam ser as coisas, cabe ao julgamento de cada um. O que é certo para mim, pode não ser para você. O que para mim é questão de castigo, para você, leitor, pode ser questão de morte. E, por óbvio, o que é certo sob seu julgamento, ao meu ver, pode ser um pecado capital. Cada cabeça, amigo, uma sentença.

A história, com o perdão ao devaneio, é a seguinte: Nosso protagonista estava acostumado a lidar com o sexo oposto. Tinha amigas, colegas, conhecidas, namoradas e, até, uma ex-noiva. Tinha planos. Tinha sonhos. Era uma pessoa normal. O problema foi quando ele resolveu aumentar seus padrões, ou, como diria um colega americano, “to set his standards higher”. Marcelo parou de perdoar. Parou de esquecer. Começou a amontoar as coisas, os gestos e as reações como se amontoa o feno numa fazenda de engorda. Sem cuidado, sem análise. Ele passou a tomar o todo pela amostra, e estendeu isso ao gênero feminino. O que uma mulher fizesse com ele, contaria para a seguinte. Não havia nada que a moça pudesse fazer. Antes dela, poderiam ter passado quinhentas, cada qual com sua individualidade. Marcelo não a consideraria. Mulher, ele dizia, era mulher. A “mancada” de uma, era a mancada de todas.

Apesar disso, seu coração batia mais forte a cada mulher que conhecia. E conhecia muitas, devido ao seu trabalho. Deu sorte, arrumando aquela colocação em uma agência de modelos, pensava. Era mesmo invejado por seus amigos. Mal sabiam eles... A astúcia de que dispões as mulheres com as quais ele lidava. Olhares, sorrisos, vozes bocas, elas o dominavam. Ele simplesmente não era mais o mesmo. Estava forte e fraco, era bravo e covarde, grande e... pequeno, perto delas. Mas fechava o cerco. Não levava a sério, disfarçava a ansiedade, ignorava o que tentava lhe dizer seu coração. “Tudo mentira, falsidade”, considerava.

Infelizmente, ele não era um mestre na arte descrita. Era, na verdade, um rapaz sensível, sério, que se importava com as pessoas. E insistia em acreditar na natureza humana. “Eu não minto pra ninguém – considerava – por que mentiriam pra mim?”.

E se apaixonou por Rosana.

Rosana era uma menina linda, que demonstrava a existência de uma força divina, ao mais leve sorriso. Há quem diga que divindade é mais que isso, e eu concordo, mas Marcelo, a, ele se contentava com isso. Imagem. Aparência. Palavras. E ele não era burro. Era simples.

Apaixonou-se por Rosana. E se deixou envolver. Participou. Ajudou e foi ajudado. Deixou que irrompesse em si um sentimento maior, daqueles que movem, sim, montanhas. Daqueles sentimentos que removem obstáculos, que abrem caminho. E derrubam castelos... E destroem sonhos, e vidas.

Desculpe, mas eu sinto agora um problema. Abrindo assim a vida de Marcelo... E me abrindo com você, percebi que não o conheço. Mas, de fato, não preciso te conhecer. Quero sua opinião, e por mera curiosidade. O destino de Marcelo, ou “Mazí”, como lhe chamava Rosana, está selado. Mas, me diga, o que você acha que aconteceu com ele? Por favor, me responda assim que você tiver uma impressão sobre o caso.

Meu e-mail é fpoletto@ieg.com.br. Me diga o que você acha.
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