Podia-se dizer que era um homem de boa memória. Muito curioso, também. Lia sobre quase tudo. E falava sobre quase tudo; e jamais esquecia de citar a fonte. E usava sempre o verbo no futuro do pretérito composto: “segundo fulano, beltrano teria dito”. Certa vez, assistimos, juntos, ao desabrochar de uma rosa, numa bela manhã ensolarada. E perguntei-lhe o que achava daquele fenômeno. Ele ficou calado. Era, na verdade, um maria-vai-com-as-outras.
Quando eles se casaram tinham, ambos, a vista boa. Enxergavam muito bem e achavam ótimo o que estavam fazendo. Só muitos anos depois, passaram a usar óculos, e descobriram que, desde moço, tinham problemas de visão. E, assim, nunca viveram felizes para sempre.