Desde manhã , Ivo Junior, Juninho, azucrinou a mãe
causa daquelas bolinhas de gude. Olha que eu também gostava de
jogar, que perdia até a fome, quando passei minha infância em
Santa Catarina. Mas o meu amiguinho Juninho, queria porque
queria comprá-las. Era a coqueluche entre os coleguinhas, se todos
eles possuiam vários, ele também desejava ter muitos. Amolou,
caceteou, apoquentou a pobre da mãe, Juninho tinha 7 anos,tanto
que , ela , amolada, caceteada, apoquentada, deu-lhe dinheiro para
comprar as benditas bolinhas. Foi uma festa !! Num segundo o
moleque correu à loja, melhor no bar, e comprou as mesmas,
voltando todo soltitante com um saquinho cheio delas. Havia
bolinhas de gude verdes, azuis, rajadas, brancas, amarelas, etc...
Embevecido,Juninho namorou uma por uma. Depois do almoço,
de banho tomado, cabelo penteado com fixador, para não despentear
o topete, alvo de admiração das meninas, tomou o caminho do
Grupo Escolar.- do 4* ano primario, série c. Levando-as escondidas
na pasta, apesar da proibição da professora de carregá-las na
classe. Silencio-se dentro dela todas a primeira parte das aulas,
mas não tardou que já saudoso, deixasse a mãozinha escorregar
para o interior da pasta acariciando-as prazerosamente. Pensou
tomara que batesse de vez , o sinal da saida ! Indócil, acabou
esquecendo-se da prudência e, foi ai, que a professora Dona
Sônia ouviu o barulho. Adeus bolinhas de gude ! Ao som de severa
carão, foram jogadas dentro da bolsa da mestra junto dos cadernos
com os deveres que ela revistaria em casa. Passando um instante :
-A professora Sônia, Juninho disse , na saida a senhora me devolve
as bolinhas de gude ? - De maneira alguma ! Quem mandou você
desobedecer ? O sinal retiniu, o Grupo Escolar como era chamado
na época, esvaziou-se e as bolinhas acompanharam a professora
que, já esquecida da desobediência do aluno, foi, após o jantar,
acomodar-se na varanda de sua residência, receber a frescura da
noite. Encaminhando-se para ela foi que viu , antes de abrir a porta,
um envelope no chão. Que seria ? Apanhou-o subscritado a lápis,
continha seu próprio nome. Dizia o bilhete extraido de seu interior.
"Cara professora Sônia".- Desculpe por ter levado as bolinhas de
gude, eu nunca mais levarei elas para a sala de aula, prometo-lhe.
Mando-lhe um abraço, seu aluno juninho. A infância só se vive uma
vez, Dona Sõnia mandou chamar o pequeno Juninho infrator, que
morava nas proximidades. Poucos minutos transcorrido, sorrindo
feliz, Juninho voava de volta à sua casa levando o seu valioso
tesouro.
-JOSE ANGELO CARDOSO.-Poeta, contista, artista plastico.