Distinto senhor da sociedade interiorana viajou a Paris. Um misto de negócios e passeio. Evidentemente não faltaram as compras, entre elas, presentes para os entes queridos. Os perfumes e cosméticos prediletos da esposa, vestidos de griffe para as filhas, vinho para o filho e para alguns amigos mais especiais. Para a sua afilhada, filha do melhor amigo, resolveu comprar um finíssimo par de luvas. Para cada um dos presentes, ele fazia um cartão com uma dedicatória e grudava junto.
Para a afilhada escreveu:
"Minha querida, em minha viagem, lembrei-me de ti e te trouxe uma lembrancinha, símbolo do meu carinho. Mesmo sabendo que não tens o hábito de usar tal utensílio, pois nunca vi. Creio que em uma ocasião especial poderás me dar o prazer de vê-la em ti.
Fiquei em dúvida quanto ao tamanho e à cor e me aconselhei com a balconista, a qual, gentilmente a experimentou para que eu visse e lhe ficou muito bem. Afirmou que esta cor não desbota nem mancha. Talvez fique um pouco larga na frente, mas é para que os dedos possam movimentar-se com maior desenvoltura.
Antes de usá-la, recomenda-se colocar um pouco de talco para evitar o mau cheiro e, após o uso, virá-la pelo avesso."
Não entendeu quando o compadre e amigo rompeu a amizade de tantos anos. Da mesma forma que não entendeu onde foi parar a calcinha de renda que trouxera, às escondidas, para uma das meninas, a sua predileta, do Casarão de Dona Laurinda.
Manoel Carlos Pinheiro
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