Era outono ...
Os dias eram sempre tumultuados e não dava tempo e perceber as folhas caindo, mas tenho certeza que era porque olhava pro braço e via a pele rachadinha. Sempre é assim no outono.
E durante esse ressecamento gradual aparente, as atitudes foram se tornando inéditas e virgens, como se tivesse renascido de uma forma original...
E as feições se modificaram assim que recomeçei, ninguém me avisou de nada e eu não pedi ... simplesmente aconteceu.
Parece-me que trocaram os olhos enquanto dormia.
Imorredouro: os cheiros. Estranhamente a lembrança deles chegou intacta a outra vida. Cheiro do corredor da escola, de homem, da fazenda, das pessoas queridas, da comida da mãe... estes vieram junto com os olhos novos, a lingua nova e a pele que sentia mais frio agora.
Parecia um ET ... os movimeentos eram admiráveis e as vezes o ar era irrespirável. Se fosse antes pensaria na poluição do ar da grandes cidades.
Mas a força desta mutação me faz perceber que as pessoas sorriem com arrependimento e esse sorriso deixa o ar verde e pesado.
A casa passa a ter cores novas entrando pela janela, provavelmente porque o céu , no outono é impressionantemente mais azul. Mas, como minha pele saiu do meu corpo como a das cobras e agora existe em seu lugar uma bem fininha, a casa parece ser o lugar mais quente: toquinha da terra.
E as pequenas coisa e detalhes não passaram mais desapercebidos pelos sentidos novos. Talvez porque nunca tivessem sido usados.