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Contos-->Mulher paulista -- 07/01/2002 - 13:45 (MIGUEL ANGEL FERNANDEZ) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Melhor bater na janela do quarto de Lauro. Foi até ela, situada numa das laterais da casa. Ao chegar, colou o ouvido. Silêncio. Chamou por ele, baixinho. Repouso na casa. O que diria? Que esperava ouvir dele? E que fazia ali no escuro, àquela hora da noite, faminta e mortificada? De longe, o eco de explosões chegava cansado, despido de perigo. "Na zona do Túnel, talvez." Chamou de novo, mais alto. Dessa vez a luz no interior do quarto se acendeu. Ouviu o familiar ruído das molas da cama, endireitou-se, arranhou o cabelo descomposto, sujo e emaranhado. "Sábado, sim, mas não vindo de festa ou indo a outra, essa era sua cara e sua aparência... A mulher paulista contribuiu inestimavelmente para a Revolução. Fez tudo quanto podia fazer para o bem de São Paulo. Pro São Paulo fiant eximia!
Reclamados os seus filhos, os seus maridos, os seus noivos, os seus irmãos, para a batalha pela santa causa, a mulher de Piratininga os entrega sem hesitar. Um sorriso lhe aflora aos lábios, como a exprimir a grande felicidade que lhe inunda a alma. Pro São Paulo fiant eximia! ... No meio da noite de sábado aflito, num bairro distante. Em muitos sentidos."
Seguramente o uniforme devia estar manchado de sangue nalgum lugar. Escondeu as unhas sujas no bolso e apertou o que achou ser o batom. "A mulher paulista não vacila. Despoja-se dos seus anéis, dos seus brincos, dos seus pedantifes cravejados de brilhantes, dos seus distintivos profissionais e - sublime sacrifício! - de suas alianças. Mas não é tudo." Sentiu as meias grudentas, cheiro de suor no corpo todo, hálito de fome na boca seca de lábios pálidos... retirou a mão do bolso: em lugar de batom, uma bala de fuzil esquecida. Vontade de chorar por estar ali, metida nessa revolução onde descobrira, tarde demais, que se matava com a mesma violência vista em tantos filmes de guerra, porém, o ódio refletido no rosto de atores exageradamente maquiados, interpretava mal a verdadeira expressão que via nas trincheiras e ruas de São Paulo. Paulis-ta contra mineiro e carioca e gaúcho e nortista... aqui se mata-vam entre irmãos. Como nos filmes, separavam-se casais... "Ela ainda sente que fez pouco por São Paulo. E vemo-la nos pontos de concentração e nas cozinhas de campanha, preparando, com carinho maternal, as refeições para o soldado constitucionalista..."
- Quem é? - murmurou a voz baixa e fanhosa de mulher.
Os combates prometiam continuar a noite toda... durando a vida toda. Morreria num deles?

Fragmento de capitulo do romance A Cena Muda
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