Acordei no meio da noite com o estômago pegando fogo. Pulei da cama e fui até à cozinha procurar algum antiácido. Despejei a moeda no copo com água e aguardei sua efervescência enquanto ligava a teve e procurava algo de bom em algum canal.
Tomei meu antiácido e em seguida acendi um cigarro sentando-me no sofá. Deslizei meus dedos pelos botões do controle remoto.
Chuviscos e mais chuviscos. Antigamente era possível ouvir algumas transmissões em AM em alguns canais. Hoje, graças ao avanço tecnológico ficamos só com os chuviscos.
Tateio novamente o controle remoto e encontro algo. Na tela da minha tevê assisto à um homem. Fala de Deus, de Jesus e seus apóstolos como se tivesse vivido àquela época. Mas como não poderia deixar de ser pede alguns trocados pré-estabelecidos pelo pastor mor.
Acabo dormindo sentado no sofá e sonho...
No meu sonho Jesus Cristo desce da cruz e caminha em minha direção. Com suas mãos perfuradas apanha uma ânfora e despeja um pouco numa concha feita de madeira.
Com a mão direita retira uma hóstia de seu manto sagrado e coloca dentro da conha. A hóstia sangra. Ele me dá de beber da concha.
Tento evitar mas seu olhar é mais forte. Tomo tudo num só gole e Jesus Cristo se desmaterializa-se ante meus olhos.
Acordei assustado e suado. A tv evangélica já estava fora do ar. Desliguei a tv e me levantei do sofá sem antes notar que a acidez no meu estômago havia passado. Fui para o quarto dormir.
O Universo se equilibra. Flores silvestres cobrem o antigo campo de futebol. Borboletas dançam suas sinfonias. No morro ouço um tiro e choro. Não podemos fugir dos nossos destinos.