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Contos-->Dagoberto, o certinho (a saga de Jack, cap 7) -- 11/09/2001 - 10:56 (Flavio Costa Ribeiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Dagoberto desde pequeno sempre mostrara um senso de organização fora do comum, seus brinquedos nunca estragavam, era um verdadeiro exemplo de como uma criança deveria manter suas coisas, pelo menos aos olhos dos adultos. Suas professoras do primário, sempre elogiavam-no, pois não podiam acreditar como uma criança podia ser tão organizada.

Sua vida com os adultos era tranquila, pois não só não incomodava seus pais como, pelo contrário, procurava corrigi-los de sua desorganização. Lógico que, perante seus amiguinhos de infância ele era um chato, aliás, um tremendo chato, além disso, um tremendo dedo-duro. Qualquer colega que não fizesse aquilo que era a regra colocada a eles, era o primeiro a “dedura-los”, pois para ele não seguir os padrões impostos era uma falha extremamente grave.

Dagoberto cresceu, e não mudou muito, para dizer a verdade, não mudou nada. A medida que crescia, somente piorava sua idéia de como a vida deveria ser, ou seja, seguindo as regras impostas sem jamais questioná-las. E o tempo passou, chegou a adolescência, e Dagoberto continuou o mesmo, o aluno mais organizado da escola. Quando não havia regras a seguir, ele mesmo as criava, e queria que todos os outros alunos as seguissem, concordassem ou não com elas. Para Dagoberto somente tinha significado uma coisa, os padrões existentes, ou aqueles criado por ele mesmo.

Após a adolescência, veio o período do amor. O namoro, aquela coisa que acontece com todas as pessoas, mas para Dagoberto as coisas não eram tão simples assim. Sua namorada tinhas que ser totalmente submissa as suas colocações, ou seja, tinham hora para ficarem juntos, ele tinha hora para ficar com seus amigos jogando futebol, a hora e dia certo para irem ao cinema, etc.

Quando finalmente Dagoberto encontrou a mulher de sua vida, o melhor, a esposa de sua vida, era aquela que se submetia a todos os padrões de como se comportar em todos os momentos de sua vida. Amor não era um dos seus requisitos, mas obedecer cegamente seus padrões era uma coisa fundamental.

A festa do casamento, organizada por Dagoberto logicamente, tinha lugar marcado para cada pessoa. Durante a mesma, Dagoberto não cansava-se de tentar organizar os garçons, as pessoas que tinham que manter-se sempre no mesmo lugar. Ao final, Dagoberto estava extremamentre estressado, afinal, as pessoas não aceitavam seguir seus padrões, como ele havia planejado.

No trabalho não era diferente, metódico, todo certinho, não permitia que nenhum de seus supervisionados fizesse qualquer coisa que não fosse aquilo estritamente escrito nos padrões, escritos por ele, lógico. Quando Dagoberto intrometia-se nos outros setores, normalmente ouvia coisas não muito agradáveis, pois o mínimo que chamavam ele era de chato.

Em seu setor, quando algum colega de trabalho fazia algo que não estava de acordo com seus padrões não deixava a pessoa nem falar, dava a maior bronca sem que o mesmo tivesse direito a defesa. Após, ficava colado na pessoa sempre com o olhar severo, como se fosse um policial repressor.

Sua carreira profissional sempre aconteceu conforme seus planos desde a infância, sua aposentadoria tinha data marcada a décadas, inclusive o que faria após a mesma.

Na vida familiar, Dagoberto teve alguns desgostos. Seus filhos depois de uma certa idade rebelaram-se com todos aqueles padrões e normas de conduta. Sua esposa, submissa, também não concordava com suas atitudes, porém não ousava expressar sua opinião. Uma passagem hilariante foi quando na transa semanal, que tinha dia e hora certa para ocorrer, além de, segundo sua esposa, tempo de duração sempre igual, a coisa não funcionou. Dagoberto preocupadíssimo perguntava-se, o que tinha acontecido, a norma era que tinha que ter acontecido a ereção após o beijinho no pescoço e a retirada da camisola da esposa, mas não aconteceu, ele nem dormiu naquela noite, afinal como ele mesmo não havia feito sua “tarefa” semanal de marido.

Já na velhice, doente, sabendo que a morte chegaria, organizou direitinho seu velório, as pessoas que seriam convidadas, o local que elas deveriam permanecer, bem, digamos assim, como ele sempre fizera a vida inteira, criara um padrão de enterro. Sua única angústia era não poder estar lá, vivo pelo menos, para ver se as coisas aconteceriam exatamente como ele planejara, mas teve que se conformar.

O dia chegou, Dagoberto morreu, sua esposa rasgou o padrão de velório escrito por ele e realizou tudo a revelia. Os comentários de seus amigos era que finalmente sua esposa poderia ter um pouco de liberdade, e que talvez agora, Dagoberto perdesse a mania de querer organizar tudo.

· * * * * * * * * * *


Dagoberto encontrava-se em um caminho quando uma pessoa chegou até ele e apresentou-se como Jack, condiziu-o até um local onde ele deveria pemanecer até organizar tudo, que estava uma grande bagunça, diga-se de passagem, e quando a tarefa estivesse terminada ele poderia descansar e ir para o paraíso, um local todo organizado, onde tudo funcionava certinho, sem falhas, conforme os padrões estabelecidos.

Diante de tal proposta, Dagoberto arregaçou as mangas e começou a limpar tudo, colocar as coisas nos lugares certos, ele somente pensava em organizar o local para então ir para o paraíso, o lugar perfeito com o qual ele sempre sonhara. Quando estava quase terminado o trabalho, Jack falou que daria uma saidinha e retornaria logo, e que esperava que em sua volta o serviço estivesse pronto.

Após a saída de Jack, um bando de diabinhos entrou no local e bagunçou tudo. Dagoberto impotente contra tantos, viu seu longo trabalho ir por água abaixo. Após algum tempo, Jack retornou e vendo aquela bagunça toda de novo, deu a maior bronca em Dagoberto, este tentava explicar mas Jack não deixava ele nem abrir a boca. Dagoberto tinha que voltar a limpar tudo de novo, sem direito nem mesmo a dar uma explicação sobre o que ocorreu, e isto sob o olhar severo de Jack, como se fosse um policial repressor.

Quando o serviço estava quase terminado de novo, Jack falou que tinha que dar uma saidinha e retornaria logo, e que esperava que em sua volta o serviço estivesse pronto. Ao sair do local, Jack olhou para o lado e viu o bando de diabinhos que aguardavam ansiosos para entrar de novo, apenas esperando o sinal de Jack, um leve sorriso debochado no canto da boca.

Enquanto se afastava do local, Jack podia escutar os gritos de desespero de Dagoberto em meio a algazarra que os diabinhos faziam, e pensou: “acho que vai levar muito tempo até ele aprender que não pode organizar tudo, que o caos da natureza é eterno e inevitável”.

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