Era uma vez uma garota, de uns 11 anos, que vendia flores no bairro de São Caetano, numa cidade do estado da Bahia.
Ela não tinha nome, se tivesse, não conhecia. A garota das flores também não tinha família, apenas ela e seu gatinho. Morava sozinha na rua. Vez em quando um senhor viúvo, arranjava um cantinho no quarto de empregada da casa dele.
O fruto do seu dinheiro era colhido no cemitério, uma à uma, antes de colocá-las no cesto, a garota cheirava, cuidadosamente, todas as flores. Era como uma forma de sentir se estava bom ou não. Gostava do trabalho bem feito, era caprichosa.
Sonhava em ser uma bailarina. Achava linda a forma como dançarinas se moviam. Não, nunca tinha visto nenhuma apresentação de balé antes. Mas tinha encontrado uma caixinha de música no lixo, e ficou encantada com a bonequinha vestida de bailarina.
Quando tivesse 15 anos, ela queria ser paquita. Quando dormia na casa do viúvo, acordava bem cedo pela manhã e corria para frente da tv. Seus olhos brilhavam ao ver a Xuxa e as paquitas dançarem as músicas que ela já sabia cantar. Era isso, seria paquita aos 15.
Queria ser atriz quando mais velha. Uma famosa atriz de novela, daquelas que ela via pelas vitrines das lojas de eletrodomésticos. Antes de dormir, imaginava como seriam suas personagens. Particularmente gostava de uma mulher, que ela não tinha encontrado um nome ainda, que era catadora de lixo. Um dia ela se apaixonaria por um rapaz bonito e rico, e ficaria rica também. A garota das flores gostava tanto desta personagem que muitas vezes fingia ser ela.
Sonhos eram sonhos, e a garota que vendia flores continuava a colher no cemitério e vender em São Caetano.
De balé, ela apenas viu uma apresentação infatil na praça onde o senhor a tinha levado uma vez. Achou lindo. Seus olhos brilhavam, nem piscavam. Tinha ficado encantada.
Aos 15, engravidou. Um garoto o qual se apaixonou perdidamente. Ele fugiu, ela ficou com o filho na barriga. Nunca mais se viram.
Sasha. A mãe que nunca teve nome, deu um para a filha. Ao completar um ano de idade, a garota das flores deixou a criança com o viúvo - tinha muito carinho por ele - e foi embora. Para sempre.
Ela não vendia mais flores. Vendia seu corpo, na Avenida, por 70 reais. Conheceu o prefeito, o deputado, vereadores, alguns empresários e outros homens ricos, na cama.
Quando ia deitar, a ex-garota das flores, pensava na filha e nos sonhos que ela podia ter. Chorava.
Era uma vez uma filha de uma garota que vendia flores. Uma menina de uns 11 anos que colhia flores na igreja e vendia para os moços. Ela não tinha mãe. Tinha pai, um senhor viúvo que cuidava dela desde 1 ano de idade.
Sasha era sonhadora.
Se inspirava no que seu pai falava de sua mãe.
Abria a caixinha de música e via a imagem: a bonequinha bailarina, que um dia sua mãe fora.
Chorava.