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Contos-->A Fraude -- 22/12/2025 - 23:13 (Alexandre Pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A FRAUDE

               Havia rumores que naquela última semana, tinha passado por ali um falsificador de notas de dinheiro que despachou um volume alto de sua mercadoria, e causou uma revolta em toda comunidade. Não era a primeira vez que isto acontecia, mas os comerciantes já tinham esquecidos que este tipo de fraude teria que tomar mais cuidado, que a prevenção era algo que teria que fazer parte do cotidiano. Felizmente, a ação deste bandido não foi tão danosa, apesar do volume despejado. Foi pontual, pois parecia que o meliante não era tão experiente, tão graduado no crime. Porém, era só o que se falava na cidadezinha do interior, a polícia estava a caça, buscando trilhar os caminhos de sua fuga. Para mim, era curioso, chegar numa cidade desconhecida e me deparar com um evento desta magnitude, que mobilizasse seus cidadãos a um debate que perpassava pelo campo político, policial, fiscal, e para alguns mais radicais, abria-se um debate intervencionista ou separatista. Nem que tivesse embarcado ali a tal da Madonna, não traria tanto bafafá que causou esse Zé Ninguém.

               Pois bem, saí do hotel ouvindo essa história no hall de entrada. Percorri as ruas observando as pessoas e sendo observado (como se eu fosse o suspeito). Percorri a igreja sem ser molestado, passei no banco em frente à barbearia e senti um soco no coração. Os olhares de desprezo dessa gente parecia que haviam achado o contraventor. Foi por muito pouco que não corri para o hotel para me esconder. É, mas quem não deve, não teme. Eu me recompus do susto e resolvi seguir minha vida, pois amanhã eu começaria a minha jornada de trabalho. Decidi entrar num bar, pois ali é porto seguro dos viajantes, e o último reduto em que um foragido iria se meter.

               Ao invadir este acolhedor lugar, fui direto ao balcão. Era uma mesa de pedra escura com uma faixa vermelha. Sentei nessas cadeiras altas. A atendente era uma jovem que parecia estar impaciente. Havia cerca de quinze a vinte pessoas espalhadas em mesas, todas já servidas com seus tragos, com feições de detetive com poucos amigos. Era nítido nos rostos o esforço para tentar solucionar quem havia atacado, com tamanha desfaçatez, aquela pacata comunidade. O clima era hostil. Definitivamente, eu não chegara em boa hora. Eu me dirigi a atendente e pedi um trago, e fui atendido na hora, sem muita conversa. Ninguém me olhava, a partir de então, todos estavam envolvidos neste enigma. Procurei relaxar, mas aquilo me inquietava. Puxei outro trago e fui atendido na hora. Pensei, será que ninguém vem me fazer um interrogatório, afinal uma investigação precisa envolver novas linhas, novas possibilidades. Tentei me ocupar com a TV, mas estava naqueles canais de futilidades jornalísticas que não sei quem assiste.

               Senti que tudo aquilo estava me fazendo mal, estava com uma angústia no peito, precisando falar. Só eu me dava ouvidos, e parecia que eu era o impostor. Precisava provar a minha inocência, alguém tinha que ouvir os meus argumentos. Só a atendente é que estava ali sem par... mas não poderia tirar a paciência dela. Pedi um último trago, e a conta! Foi a oportunidade de usá-la como minha psicoterapeuta. “Moça, você pode ver aqui na minha carteira, que eu não tenho nenhuma nota falsa. Vamos, verifique!”. Ela me olhou atônita, deu para perceber sua pulga saindo da orelha, com um leve olhar desconfiado. Ela calculou a conta e pegou as notas. Passou na luz da janela, concordou. “ Mas, moça, você pode olhar as minhas notas aqui na minha carteira, veja!”. Tirei todo o chumaço de dinheiro e coloquei à disposição como se faz naquelas viagens de avião, ao passar no raio-X. Nisto, se aproximou o gerente com uma maquininha na mão. Eu perguntei: “É um scanner? Vamos passe... pode passar uma por uma”. Eles se entreolharam e scannearam algumas notas, estando por satisfeitos, mesmo não vendo todas. Já estava me sentindo aliviado, quando a atendente, com sua curiosidade investigativa, apontou para o porta moedas da minha carteira. Dali em diante, foi como estar algemado, senti que não podia mais sair dali sem prestar contas. Fui tirando as moedas com muito cuidado, uma por uma, esvaziando-a quase que completamente. Ela me olhou... e apontou de novo, como quem diz “Tem mais”. Senti um calafrio, aquela tensão na testa, puxei a carteira para enfiar os dedos e retirar as últimas moedas. Trouxe para o meu colo, com o intuito de proteger e esconder dos meus oficiais, o comprimido que eu guardo na carteira para ocasiões especiais. Trouxe preso em meus dedos, puxei para o meu colo e prendi-os entre as pernas, e finalmente, arranquei as últimas moedas, como quem salva alguém de um espaço confinado. Que tenso! Envolta de mim, havia uns três ou quatro homens com cara de poucos amigos. Eles me olharam... parecia que faltava pouco para a minha condenação. O gerente deu a volta no balcão ... me olhou como quem diz “Você pensa que eu sou bobo”. Dois dos seus mal-encarados, subordinados, pegaram em mim por cada braço e me ajudaram a levantar da cadeira. O gerente se agachou para ver o que tinha caído no chão... e descobriram a minha fraude que descortinou.

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