Nos meus 15 a 20 anos, já era mateiro de passar dias e noitadas no mato, ora enganchado em forquilhas grossas de robustas árvores, ora enfiado em saco de lona, ao pé de fogueira bem abastecida.
Quase sempre em grupos de 3 a 6 caboclos mais
ou menos experientes, mas não raro eu sozinho e Deus comigo.
A cuidadosa escolha do pouso noturno visava mais vezes à comodidade do descanso do que à segurança contra bichos. Desses, os grandes (onça, cachorro-do-mato, jaguatirica) era notório que evitavam o homem, a quemsó atacavam quando enfurecidos ou famélicos, preferindo dele se desviarem, tão logo advertidos pelo seu apurado faro.
Dormia eu, pois, em cômodo poleiro quando me despertou de supetão um "quê" de estranho no tempo e no ambiente. Não era o piar do caburé, comum e conhecido, nem o agitar dos galhos mais finos,superiores à pousada, de onde fugiam precipitadamente dois ou três micos, despertados pelo mesmo "anormal".
Mal desperto e alertado, assaltaram-me de uma vez duas impressões que o inesperado susto reuniu numa só interpretação: forte mau cheiro mesclado de enxofre e podridão, emanado diretamente de sob a forquilha em que me achava e uma bola de fogo verde-amarelento, aos saltos de dois a quatro metros, de cá pra lá e de lá pra cá.
O velho Quinzão, também acordado ao mesmo tempo que eu, em outro desgalho da mesma árvore,gritava assustado: " - É saci... é saci... olha o cheiro de saci!..."
Não acreditando, de jeito nenhum, em saci pererê nem perará, minha reação foi mais valentona, saltando diretamente sobre o fogacho que já quase se apagava, diretamente ao pé de minha árvore-abrigo.
Caí sobre os dois pés, calçados com a bota reúna que só tirava para o banho (e às vezes nem)e imediatamente senti intensificar-se o mau cheiro anteriormente sentido.
Só deçpois de riscar a pederneira foi que descobri haver caído diretamente sobre um grande caxinguelê, que jazia esmagado pela minha bota, enquanto a do outro pé tinha o bico da sola fosforecente do grande vagalume também esmagado pelo meu pulo.