Antonio, meu avô paterno,irmão de meu avô mater- no, Horácio, era conhecido e afamado "mateiro",
vivendo existência aventurosa nas matas do Campo dos Goitacases, de onde trazia para as cidades (quase sempre a pé, às vezes em lombo de burro)
ervas alimentares e medicinais, pássaros e ani- mais (vivos e mortos), pedras, armas e objetos de uso dos índios;incumbindo-se também de portar en-
comendas, cartas e recados entre fazendeiros e co-
merciantes de vasta região. Conhecido desde sua infância pelo apelido de "Totó", manteve esse ritmo de vida agregado à fazenda do irmão, mesmo depois de casado e cheio de filhos,até sua velhi- ce, aos 40/45 anos, quando "se aposentou" e assen-
tou residência no Bom Jesus do Galho,vila de ori- gem de sua mulher.
São do velho Totó, compondo grande parte das me- mórias "de oitiva" que enriquecem a história da família Catta Preta, algumas aventuras dele mesmo,
contadas a sobrinhos,filhos e netos, nas reuniões de "pé-de-fogo" das noitadas que presidia nos ó-cios da velhice prematura: meia dúzia de vezes em que se viu presa de índios brabos,lutas,golpes de sorte e de nem tanta e até desastres em que ven- ceu a morte, atacado de feras e bichos venenosos.
Somam-se nas aventuras do velho Totó, heroísmos,
fugas, certezas e potocas merecodores de destaque
na saga que um dia se vierem a reunir-se as lem-
branças dos vários pomares que já hoje frutificam em quase todos os Estados do Brasil e até em ou- tros países e continentes.
Das duas ou três dezenas de lembranças que consi-
go recompor de minhas memórias da infância, boa parte rememora as "prosas" de meu velho avô, que a vida não me deu conhecer senão pela oral tradi- ção destes "causos".
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