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Contos-->Criador de peixe leiteiro -- 24/03/2018 - 20:42 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos





Em dias de  matutagem, Soberbo sabe destrinçar boi como ninguém. E contar mentira... Fazer projeto maluco pra vida. Diz que tem  dinheiro guardado no Banco Hipotecário e, quando sair   de Campo Grande, vai comprar uma fazenda e criar peixe em cativeiro.  Corre o boato que ele matou o sogro lá onde morava. E soverteu. O povo pensava que ele tinha ido se esconder no Norte, no meio de caboclo brabo do mato, onde  ninguém acha. Polícia não  vai... Fazer o quê? Dar sangue pra mosquito da malária? Que nada. Turíbio enganou todo mundo. Veio  pro Norte de Minas. Foi quando apareceu na fazenda Campo Grande.
— Seu patrão parece ter alma boa.
— Generoso nunca comprou patente! Nem quer! Tem mania de correr o campo antes da seriema.  Se sai depois do almoço, só volta pra casa, quando o sol já está procurando cama pra dormir. Anda sozinho. Matutando com os bichos. Contando borboletas, sentado na barriga de qualquer  raiz.
— Conversando com os bichos?
— Conversa, e conta tudo. 
Conta tudo. Conta  quantas patas tem uma aranha armadeira, quantas manchas pretas tem a carapaça de uma joaninha vermelha, e quantas manhas vermelhas tem uma joaninha preta. Quantos bezerros, quantas vacas solteiras, quantas paridas... e boi rufião. Conta tudo e se assusta com o resultado: somando, dá mais de cinco mil.
— O senhor é engraçado. Contando esses bichos todos só chega a cinco mil. E os carrapatos, não conta?
— Carrapato, tem não! Um ou outro contado no dedo, e é logo combatido.
— Toda beira de rio tem carrapato. Na chapada é o berne.
— Berne aqui tem não! Nunca vi. Carrapato tem em todo canto. Nuns mais, noutros menos.
— Tem simpatia para afugentar esses bichos.
— Bicho tem espírito não? Gosto dessas coisas não! Reza é pra gente. Bicho tem que ser tratado com creolina. 
Vaqueiro Alexandre Guedes persignou-se ao cruzar o cemitério das Sete Passagens.
— O senhor acredita em assombração, Nhô Velho?
— Nunca vi alma. Nem fantasma. Nem quero ver!  Mexo com essas coisas do outro mundo não! Morreu, vai para onde Deus for servido. No mais, encomendo um pai-nosso e três ave-marias pela alma do defunto e sossego.  Tem coisa que se faz passar pela alma de algum morto e não é... por isso dou assunto não. Só rezo. Rezo o credo também e pronto!
— Conto vantagem não Nhô, mas já dei um tiro numa assombração...
— Atirou numa visagem?
— Dei um tiro num vulto! Era branco e grande. Muito grande!... Eu voltava da casa do patrão. Confiei que a lua estava clara e dilatei a visita. No caminho um vulto apareceu em minha frente. Foi crescendo, crescendo...se avantajando... Aí, atirei! A mula deu uma upa e afinou no caminho de casa. Se o amigo prometer não zombar, conto o resto da história.
— Pois diga!
— No outro dia, Urso Branco amanheceu esticado no pasto.
— Urso branco no Brasil,  seu Alexandre?
— Era um reprodutor nelore! Mas não prestava. Não deixou cria.
— Boto-cor-de-rosa também era assim. Acabou indo para a balança.
— Nem me fale em pesar boi... dá dó.
— Já vi gado chorar, cheirando sangue de animal abatido.
— Se depender de mim, não mato nem uma galinha.
 
*** 
 



 




Adalberto Lima


 




Enviado por Adalberto Lima em 24/03/201

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