|     
				| LEGENDAS |  | ( 
					 * )- 
					Texto com Registro de Direito Autoral ) |  | ( 
					 ! )- 
					Texto com Comentários |      |   | 
	|
 | Contos-->Caçarola remendada -- 30/09/2013 - 05:05 (Brazílio) |  |  |  |  |  |
 | Ela já não tinha mais cabo, mas nem os rigores de 
 tantos calores e ferventes acidentes tinham dado cabo
 
 dela. Preta, de ferro - e com aquele remendo de lado -
 
 ainda tinha serventia, em tempos outros, duros, mas
 
 sem panela vazia.
 
 Seus colegas de trabalho, que incluíam caldeirões,
 
 panelas e uma nova caçarola, essa já de alumínio, que
 
 o dissessem. Não era mole ficar duas horas ou mais
 
 sentado na trempe incandescente do fogão de lenha. E o
 
 pior é que, feito o serviço, eram encostadas e nem ao
 
 menos areadas quando lavadas. Feito as panelas
 
 brilhantes de Tibebé, que delas cuidava, como num
 
 dogma de fé.
 
 A caçarola remendada não ganhou esse nome a toa. Já
 
 tivera seus dias de glória, sua mais bela história e
 
 na certa, um tombo, que lhe provocara uma rachadura
 
 lateral, da borda até o meio do corpo. Ou teria feito
 
 parte de um acerto de contas culinário, rachando a
 
 cabeça de algum otário? Melhor pensar na primeira
 
 opção, pois uma caçarola melhor faz arroz e feijão.
 
 Com toda paixão.
 
 O remendo, é que chamava atenção: bem feito para os
 
 tempos pre-Brastemp, consistia numa chapa de ferro
 
 exterior, presa por pontos de arame, sobraçando os
 
 dois lados daquela racha. Não chegava a vedar
 
 completamente, mas fazia um esforço férreo.
 
 E a velha caçarola se prestava com humildade e
 
 eficiência a trabalhos acessórios, como assar um bolo
 
 - que papai era mestre em fazer - entre brasas no
 
 fundo e na tampa.
 
 Quando nos mudamos do povoado para a cidade, a
 
 caçarola, agora transformada em pote de margaridas,
 
 já não nos seguiu. Mas não foi a única a ficar: teve
 
 por companhia a passadeira de borracha plastificada e
 
 a torradeira de café, ambas sem remendos, mas ambas
 
 também a fincar o pé.
 | 
 |