Todo final de semana, Dona Carmosina abatia um frango para o almoço domingueiro. Se não fosse o prodigalismo do filho, a ave faria fatura na casa onde moravam apenas mãe e filho.
Viúva há mais de 15 anos, ela ganhava o sustento da família, lavando e passando roupas para os mais abastados moradores do antigo povoado Pitinha, que, emancipado, tornara-se São João da Lagoa, uma cidade do Norte de Minas.
Camosina nunca quis outro homem dentro de casa. Homem dá trabalho demais, dizia ela. Custara-lhe muito criar o filho sozinha, até tornar-se adulto, beirando os trinta janeiros...
Era exatamente no dia de descanso da mãe, que Gildásio lhe dava mais trabalho: meses e anos a fio, o único filho que lhe deixara o falecido marido, trazia amigos para comer e beber de graça em casa. “Filho criado, trabalho dobrado”, pensava ela lá com seus botões...
Sem nada reclamar, suportava os desmandos do filho. Para ela aquele menino tinha sido a única herança que recebera do marido. “Menino bom! Ainda haverá de ser gente na vida”.
Nas primeiras horas de um domingo comum, ela cuidava dos afazeres. Precisava apressar-se, logo os amigos de Gildásio chegariam de mãos vazias e voltariam no final da tarde, de barriga cheia.
Aquele dia pareceu comum como tantos que se repetiam ao longo dos anos, mas não foi! O menino agora, já homem feito, teve um lampejo: “Nem relógio trabalha de graça...quem quiser comer e beber, vai ter que pagar.”
Os primeiros chegados entreolharam-se. Estavam diante de novo cenário: numa mesa arrumada na pequena varanda, pratos e copos vazios esperavam os convivas, mas nada lhes era servido: nem bebida, nem tira-gosto.
Impaciente, e, de certo modo, afoito, Miguilim pediu para quebrar uma. Queria beber cachaça... o tira-gosto viria como consequência do primeiro pedido.
Como uma cena ensaiada, muitos pigarrearam a garganta, sem dúvida, uma confirmação de que também queriam molhar a goela.
- E aí, Gil! Não vai sair uma pinga?...
- Tá na hora do amigo colaborar – disse o
anfitrião.
Miguilim deu-lhe dois cruzados. Em seguida, outros deram pelo menos um cruzado...
Nocaute, ( na pobreza)