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Contos-->O Estranho -- 15/12/2009 - 21:44 (josé paulo pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Estranho!

Era um sujeito muito estranho. Muito magro, pálido, pernas compridas, dedos longos.
O comportamento era completamente diferente. Às vezes sumia por vários dias sem que fosse possível imaginar seu paradeiro. Às vezes conversava com os vizinhos, outras não cumprimentava ninguém.
Bebia, fumava, levando vida desregrada.
A mãe parecia desesperar-se, dando a entender que não havendo respeito a tratamento e a dieta, sua saúde correria grande risco. Afirmava ser ele diabético, fato difícil de acreditar, pelo número de refrigerantes ingeridos por ele, a todo o momento.
Não se sabe como, mas o fato é que estava sempre com roupas de qualidade, sapatos novos, trajes de gente elegante. Mais ainda pela variedade. Não passava uma semana sem que aparecesse uma roupa diferente.
Intrigante! Não parecia haver recursos financeiros para tanto. Também intrigava o fato de estar sempre com as roupas sujas de terra vermelha. Imaginava-se que caia pela rua, embriagado. Mas, que diabo! As ruas eram todas asfaltadas! Os jardins eram gramados! Como conseguia sujar-se tanto, incluindo os cabelos?Também era notado que as roupas rasgavam com facilidade, parecendo terem sido esfregadas no chão.
Nos últimos tempos parecia haver mais recursos financeiros. Andava com mais dinheiro, fartando-se mais em bebidas e extravagâncias.
Sabiam que era funcionário da Prefeitura, sem imaginar em que setor.
Essa situação tornou-se rotina, com todos já acostumados a tanta desinformação. Só com sua mãe parecia haver algo errado. A velhinha ficava cada vez mais preocupada, aflita, demonstrando poder existir algo até muito grave.
Um dia chegaram homens diferentes, em carros oficiais. Pareciam estar fazendo alguma investigação. Conversaram, perguntaram muito e nada decidiram. Havia algo estranho no ar.
Naquele dia ele não retornou à sua casa. Nem nos dois ou três dias seguintes. Quando voltou estava entristecido, informando a sua mãe que a situação estava desesperadora e não haveria jeito de ser resolvida. Fora demitido do serviço e estava ameaçado até de sofrer penalidades. Foi contando de sua dedicação ao trabalho.
Trabalhava no necrotério. Era a pessoa mais procurada para os trabalhos mais difíceis. Se havia uma necropsia, com cadáveres já deteriorados, ele nem ligava. Era capaz de lidar com o serviço saboreando um delicioso sanduíche. Passava toda a noite trabalhando, se fosse preciso.
Atendendo a curiosidade da mãe, contou sobre suas roupas. Acompanhava todos os enterros. Quando o defunto estava com uma roupa que o agradava, ia, à noite e desenterrava o dito cujo, apoderando-se daquilo que achasse conveniente: um sapato, uma calça, camisas... Dificilmente pegava paletós, por não ser seu hábito usá-los. Não achava justo pegá-los simplesmente e depois jogar fora.
Explicou a causa das roupas sujas e, às vezes, esfoladas. È que gostava de dormir nos túmulos. Conseguia uma abertura, entrava meio se arrastando, com algumas biritas pela cuca e passava a noite mais tranqüilo que qualquer outro cidadão.
Só usava paletó eventualmente, nas noites mais frias ou quando chovia. Geralmente nos dias de chuva ia para casa.
Até ai, tudo bem. Foi levando sua vidinha normalmente.
Arrepende-se de ter desandado por um caminho menos correto. È que conseguiu o direito de vender túmulos para aquelas famílias que procuravam, no cemitério.
Descobriu depois que o comprador só voltava nas vésperas do dia de finados ou quando morresse um parente.
Mole!Por que não vender o mesmo túmulo para outra pessoa? Pensou, pensou e resolveu experimentar. Não houve problema. Quando um usuário do túmulo aparecia, logo ele fazia uma reforma, de momento e, se houvesse uma visita inesperada, tudo estaria de acordo.
Pois bem! O errado aconteceu no último domingo. Um túmulo foi preparado para a chegada de um morto. Compareceu ao velório, cumprimentou os parentes, fez a cena costumeira, alegrando-se por ter vendido aquele túmulo, dando a impressão aos compradores de terem feito um bom negócio.
Conversa vai, conversa vem, e, de repente o susto. Vê chegando para ser velado um outro defunto, cuja família havia comprado e pago regiamente, há cerca de quinze dias, justamente o túmulo que estava aberto para receber aquele que chegara primeiro.
Não deu para segurar. Largou tudo, foi-se embora acabrunhado, sabendo que seria o fim. Perderia o emprego, amigos, oportunidade de bons negócios... Tudo. Estava desolado.
A mãe tentava consolá-lo, dizendo que arranjaria outro trabalho, num escritório, numa empresa funerária, quem sabe no Fórum.
Parecia impossível o consolo mesmo com o esforço da mãe tentando fazer com que ele aceitasse aquela situação.
A mãe percebeu que tudo seria fácil de aceitar, menos perder a oportunidade de vestir-se bem e de dormir sossegado nos túmulos do cemitério.
Choraram juntos.
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