Os rapazes eram todos gays, as moças eram todas lésbicas, ela era a única exceção. Todos a tratavam como a “simpatizante” e ela era parte do grupo. Quando uma das meninas brigava com a namorada, vinha desabafar com ela, quando um dos rapazes tinha problemas com o namorado era na voz amiga dela que encontrava consolo e apoio, se chegava alguma menina nova no grupo e olhava para ela com interesse, alguém já avisava: “Ela é hétero.”
E no grupo tinha gente que fazia poesias, tinha gente que tocava violão e tinha o Luís, que tocava flauta e o Amaro que tocava violino e tinha olhos fundos e ar romântico como um artista do século XIX. Era uma turma unida, alegre e que sempre estava fazendo festas por qualquer motivo que surgisse e fazendo ponto nos bares que os aceitavam e onde viravam a noite jogando sinuca e tomando cerveja. Riam muito, cantavam muito e liam os poemas uns para os outros, ela sempre lia os seus e os mais lindos eram os que havia escrito para a filha que um dia teria. Eram jovens.
Um dia combinaram um passeio, passariam o feriado na praia, os pais da Luciana tinham um apartamento e todos acampariam lá porque deram sorte de, naquele feriado não ter ninguém da família decidido a passar esses dias naquela praia, e Luciana enfatizava aos gritos: Vamos aproveitar gente que isso é muito raro, a minha família é grande. Combinaram tudo, dormiriam na casa da Márcia e de madrugadinha sairiam com a mochilas nas costas e pegariam o primeiro trem que, naquela época ainda descia a serra.
Encontraram-se no bar, tomaram algumas cervejas e jogaram algumas partidas de sinuca, comeram sanduíches e muitas batatas fritas e depois foram para a casa da Márcia. Quando chegaram a sala estava arrumada com um sofá cama aberto e alguns colchões no chão, tinha travesseiro e lençol pra todo mundo e o grupo se dividiu porque parte foi dormir no quarto da Márcia onde também tinham sido tomadas as devidas providências para caber mais gente.
No sofá cama cabiam três pessoas e ela ficou na ponta de fora, brincou que se caísse esmagaria a cabeça do André e da Sônia que estavam no colchão mais próximo do sofá. Numa outra ponta da sala tinha mais um colchão e os sete habitantes temporários daquele dormitório improvisado brincaram e conversaram muito antes que a mãe da Márcia reclamasse do barulho e o silêncio se fizesse sentir. Do lado dela estava a Nena, a mais masculinizada da turma e também a mais simpática, ela já tinha pensado um monte de vezes que se um dia sentisse vontade de transar com uma mulher não seria ruim que essa mulher fosse a Nena, mas isso era só brincadeira porque nunca sentiu vontade de transar com meninas, gostava mesmo de homens.
Enfim, sem estar preocupada e tendo Nena como uma de suas melhores amigas no grupo, ela já se preparava para dormir quando sentiu a mão da outra menina procurando a sua, virou-se e fez de conta que a via, sorriu baixinho e disse um oi sussurrado antes que fosse beijada por aqueles lábios tão suaves e sentisse o corpo da amiga encostando-se muito ao seu. Não sentiu asco, aversão ou qualquer outro sentimento negativo, pode retribuir o beijo com todo carinho que a amiga estava colocando nos carinhos que fazia em seus cabelos. Deixou-se beijar, deixou-se acariciar e quando sentiu que, sem que nenhuma das duas tirasse a calcinha, Nena encostava seu sexo no dela e esfregava-se suavemente não ficou excitada, mas permitiu porque sentia-se bem em deixar-se quieta se isso proporcionava prazer para a colega. Quando Nena terminou conversaram um pouco abraçadas e Nena perguntou a ela se havia gostado, antes de responder ela abraçou-a mais forte e deu-lhe um beijo carinhoso para que ela não ficasse ofendida ou magoada.
- Não odiei porque gosto muito de você, mas não fiquei excitada e não aconteceu nada para mim além de muito carinho, acho que é porque, para sexo não tem jeito: eu gosto mesmo é de homem.
Elas ainda se deram um beijo e ficaram quietas, mas daí a pouco Sônia tocou seu braço e pediu, aos sussurros pra trocarem de lugar. Aceitou e foi para o colchão ao lado de André que parecia adormecido, mas não estava. Logo depois sentiu a mão de André passeando suave pelo seu corpo, ficou muito quieta e deixou que ele explorasse seus seios por vários minutos, depois as mãos desceram e tiraram sua calcinha enquanto passeavam devagar por suas pernas e uma delas se deixava demorar em seu sexo como se estivesse tentando decorar suas formas, sentir cada pelo e cada dobra, ver com o tato algo que desconhecia. Aquela bolinação excitou-a e a mão continuava, molhada e quente, explorando-a, e continuou ainda um pouco mais depois que ela, em silêncio, teve o primeiro orgasmo.
Depois ele simplesmente colocou-se entre suas pernas e penetrou-a, não pediu carinho, não pediu que ela sentisse com a mão ou com a boca, seu tamanho, sua forma, seu intumescimento. Penetrou-a e ficou se movimentando com desconhecida suavidade num vai e vem cadenciado e sem pressa, e ela teve um segundo orgasmo sem que ele aumentasse ou diminuísse a pressão, sem que aumentasse ou diminuísse seu ritmo lento; e ela, assim, foi tendo o terceiro, o quarto, o quinto orgasmo, e tendo outros e perdendo a conta a ponto de se tornar cansada do prazer que sentia; e quando estava prestes a quebrar o silêncio daquela dança sem música pedindo-lhe que parasse porque já não agüentava mais, ele acelerou levemente em dois únicos movimentos e suspirou mais fundo antes de mergulhar a cabeça nos cabelos dela. ´
Daí a poucos minutos ele saiu de dentro dela e ficou quieto estendido do seu lado e segurando sua mão, ela precisou segurar-se para que o riso não saísse alto como uma gargalhada e não acordasse ou perturbasse as outras pessoas da casa. Em um riso abafado e divertido ela pensou: “Nossa, será que alguém vai acreditar quando eu disser que o melhor sexo da minha vida foi o que tive com um gay?”