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Contos-->NO MEIO DO CAMINHO -- 17/11/2009 - 17:01 (Divina de Jesus Scarpim) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra
(Carlos Drummond de Andrade)

Pai, eu só queria saber por que. Eu não quero te odiar, te ofender, não. Eu só quero te perguntar por que. Eu pensava que a gente fosse feliz. Na verdade eu não pensava, eu sentia, eu sabia sem ter que pensar com todas as letras, eu apenas sentia que éramos uma família. Eu gostava de te esperar à noite no portão para saber se você tinha lembrado de me trazer balas, você nunca se esquecia. Eu gostava de brincar com meus amigos de mocinho e bandido, de monstro e herói, brincar despreocupado, dar tiros felizes e correr para lá e para cá sem nenhuma tristeza, sabendo que mamãe estava na cosinha preparando o almoço. Até mesmo quando tomava uma surra de você ou da mamãe eu não me sentia infeliz. Eu ficava bravo, eu sentia raiva de vocês, mas era uma raiva comum de filho, daquelas raivas que não são tão raiva assim de tão logo que passam. Eu gostava de ir para a escola com a mamãe. Eu ia todo orgulhoso porque eu sabia que minha mãe era a mais bonita de todas. Quando a gente atravessava a avenida, mamãe fazia questão de me segurar pela mão. Eu achava que não era mais preciso, eu já era grande o suficiênte para atravessar a rua sozinho, a professora ensinou na escola como é; A gente tem que olhar dos dois lados e só atravessar quando não vier nenhum carro, atravessar depressa mas seguro, firme e sem correr porque um tombo é perigoso, mas no meio da rua é mais perigoso do que em outro lugar. Mas não adiantava, mamàe queria mesmo é que eu lhe desse a mão. Então eu dava. Não ficava nem muito zangado porque todas as outras mães faziam assim, então eu achava que isso era mais uma mania de mãe e ia para a escola feliz sem saber que era feliz. Na saída, quando de dentro da classe eu via mamãe no portão me esperando, eu achava gostoso. Saía sempre rindo e ia o caminho todo contando coisas para ela. Pai, já está perto o Natal. A tia me disse que falta só um mês. Eu fico um pouco triste porque eu sei que esse ano não adianta eu botar o sapato no canto da porta que não vai ter presente. Eu nunca falei nada mas eu sabia que não existe Papai Noel e que era sempre você que colocava presente no meu sapato. Por isso eu sei que esse ano não vai ter mais. E mesmo que tivesse não ia mais ter graça nenhuma. Quem é que ia cozinhar aquele frango e fazer aquela macarronada com azeitona e tudo para a gente comer no almoço ? Quem ia fazer aquele doce vermelho que a gente comia todo ano no Natal ?. Eu sei que esse ano nem de panetone eu vou gostar muito. Eu acho que esse ano não vai ter Natal. Vai ser um dia triste. Eu duvido que o Jesus nasça esse ano sem a mamãe para botar ele no presépio lá na sala, do lado da televisão. Pai, eu não sei por que o senhor fez aquilo. Eu estava dormindo e não vi nada. Só, acordei na hora que a mamãe gritou. Ela chingou você , pai ? Às vezes eu me pergunto de que nome a mamãe pode ter xingado você para você ficar tão bravo. Pai, eu acho que mesmo se ela tiver xingado você de filho da puta não precisava você ter matado ela não. Era só ter xingado ela também. Você estava tão diferente pai. Com os olhos tão brilhantes, a mão suja de sangue. Pai, desculpa eu dizer isso mas você estava parecendo aquele bandido do filme que a gente viu domingo. Agora eu não sei como é que você está. Me trouxeram para a casa da tia Lurdes e eu estou morando com ela. Não é gostoso não, pai. Todo mundo me olha de um jeito esquisito e eu não tenho coragem de olhar para ninguém. Sinto vergonha. Eu não sei do que, mas eu sinto vergonha de todo mundo. A casa da tia Lurdes só era gostoso quando a gente vinha passear no domingo e ela fazia bolo. Eu gostava de brincar com o Carlinhos mas nem com ele é bom conversar mais. Ele disse para mim que prenderam você porque você matou a mamãe. Eu já sabia disso mas ele fala de um geito tão ruim de ouvir. Eu não quero mais morar com a tia Lurdes. Acho que eu não quero morar com ninguém. Acho até que eu não gosto mais de viver. Eu fico quase o dia inteiro com vontade de chorar e eu não vejo graça em nada. Eu perguntei para a tia Lurdes onde está o Rodrigo e ela me disse que ele está na casa da tia Marta. Ele também acordou quando a mamãe gritou e ele também viu a polícia chegando. Será que ele também está triste que nem eu ? Talvez não, ele é mais grande e diz que não chora por nada. E é verdade mesmo, eu só via ele chorar quando a mamãe batia nele porque ele ia soltar papagaio na rua e brigava com os outros meninos. Mas eu queria ver o Rodrigo. Talvez com ele eu pudesse conversar. O Carlinhos me disse que eu devia ter muita raiva de você porque é culpa sua se eu não tenho mais mãe. Mas eu queria que você soubesse que eu não tenho raiva não. Eu gosto de você sim. Eu não sei ficar com raiva de você. Eu só tenho medo de você sair da cadeia e quando eu fizer arte você ficar bravo e matar eu também.
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