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Contos-->EPÍSTOLA MACABRA -- 20/06/2009 - 08:21 (GIVALDO ZEFERINO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Caros Viventes, das profundezas da terra e na escuridão da noite, desnudo de toda a vaidade que alimentei enquanto vivo, senti um longínquo sopro de vida que me permitiu, com dificuldade, soerguer-me, e o meu primeiro pensamento cadavérico foi para vocês.
Imediatamente, junto ao pó daquilo que foi meu corpo outrora, localizei uma caneta e um papel, (pois que em vida nunca me desfiz desse material para pequenas anotações que eu fazia em minha caderneta de bolso) o que me permitiu-escrever-lhes esta missiva, sobre o meu ataúde.
Eu sei que, a estas horas, estejam a pensar que isto não seja real e que esta carta seja obra de algum louco ou escritor muito imaginativo que se situe na condição de um defunto, e eu, infelizmente, não posso provar nada em contrário. Mesmo assim - acreditem - quero que saibam o que agora estou sentindo neste minúsculo espaço subterrâneo: ao meu redor, não dá para distinguir nada. O odor dos meus despojos, quente e nauseoso, afastaria para bem longe de mim os entes que mais me amaram em vida. Meu esqueleto é horrível. Aquela cabeleira que as mulheres tanto acariciaram e beijaram, aqueles olhos penetrantes e enigmáticos, aquele corpo viril e atlético - coisas de que eu tanto me envaidecia - hoje são essa lama repelente que circunda o meu esqueleto. Nunca me senti tão sem valor como agora.
As pessoas que vivem e viverão e as que viveram também, jamais meditaram - e se meditaram, não levaram a sério - aquela verdade bíblica, onde se afirma que o homem é pó e a ele voltará; e que a carne sobrepõe-se ao espírito, enfraquecendo-o e materializando-o, enquanto as aspirações espirituais de perfeição são soterradas, falando mais forte a voz dos pecados capitais.
Agora que sinto a verdade do pó que se desgruda dos meus ossos, e dos vermes que são crias da minha carniça, afirmo-vos que nunca pensei nessa verdade, pois a morte me apavorava, e o que eu queria era aproveitar todos os momentos da minha vida, saciando os apetites gulosos da minha parte material, num anseio louco dessa felicidade passageira e volúvel que tantos males e remorsos nos causam, e maltratam as vidas da gente inquieta e insubmissa.
Eu nunca haveria de supor que hoje me encontrasse neste subsolo, sozinho e abandonado, frente-a-frente com a crua realidade da vida, aguardando o momento do desmoronamento total da minha ossada, quando vocês me confundirão com a terra onde fincarão os seus pés e jamais haverão de pensar que ali se escondem os restos de um corpo que teve vida, que amou, sofreu, sorriu e que... temeu a morte.
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