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Contos-->Pif Paf -- 15/01/2008 - 23:52 (hans dammann) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pif-Paf.



“Vamos fazer o teste”, disse Mc Killan, “você se senta
aí, Grimm, e vamos fazer o teste.”

Anton Grimm, 18 anos completados na semana anterior,
lembrou-se repentinamente do pai.
Herr Grimm, um circunspecto senhor de sessenta e poucos
anos, jamais discutira ordens ou instruções que viessem de
cima.
Passou a vida acomodando-se aos pequenos sucessos e
revéses que a vida lhe propiciava.
E morreu tranquilamente em 1999, perdendo por pouco
sua última batalha, que era atravessar vivo a passagem do
milênio.

“Deixe-me ver uma posição melhor”, interrompeu Mc Killan,
“estenda o seu braço aqui, nesta direção”.
“Algum procedimento invasivo ?”, perguntou Grimm.
Mc Killan se divertiu.
“Só você mesmo, Grimm. Em duas palavras consegue cometer
dois erros. Procedimento é uma expressão que você não
deveria usar porque o médico aqui sou eu. E invasivo, meu
Deus, há pelo menos 3 anos que nada, absolutamente nada
toca no paciente.”

Quando Mc Killan se levantou em direção a um dos quatro
computadores na sala, Grimm reviu seu pai.
Era uns seis meses antes de sua morte.
Inexplicavelmente, o velho Grimm perdera todo o viço em
poucos dias.
Embora já nessa época não fosse um menino, era um tipo
brincalhão, alegre e acima de tudo otimista.
“Meu pai tinha uma aura positiva”, recordou Grimm.

Seu pensamento foi interrompido mais uma vez por Mc
Killan:
“Deixe seu braço aqui, relaxe, são apenas alguns segundos.
vou escanear essa veia e logo estará tudo resolvido.”


Um ruído de eletricidade atravessou a sala, e novamente
surgiu na mente de Grimm a figura de seu pai.
Tudo aconteceu muito rapidamente.
Herr Grimm participava de um jogo de cartas com amigos,
bebericou moderadamente, ao seu estilo, e subitamente
sentiu uma forte dor no peito.
Perdeu a consciência, mas logo voltou a si.
Acordou com rostos preocupados à sua volta, uma forte dor
ainda pelo tórax, e uma vontade infinita de que tudo aquilo
não estivesse acontecendo consigo.

É verdade que o último exame de rotina, algo que Herr
Grimm fazia religiosamente a cada ano, levantara algumas
suspeitas.
Já daquela vez, os números não ficaram a seu favor.
E apontaram para um rápido e inesperado endurecimento
das artérias.

Quando o pequeno Grimm percebeu a ansiedade do pai,
Herr Grimm brincou:
“Papai foi mal nos exames. Mas não se preocupe. Não
haverá mais nenhum exame, e com isso não haverá também
nenhum motivo para medos.”

A voz autoritária de Mc Killan trouxe Grimm de volta ao
presente.
“Às vezes nem eu mesmo acredito”, disse.
“Sessenta segundos passeando sobre um braço, e em tres
minutos saberemos o futuro completo de seu dono”.

Grimm teve um mau presságio.
“E se desta vez os números estiverem contra mim ?”, pensou.

“Veja, meu caro Grimm”, disse então Mc Killan, “que
estágio incrível atingimos. Com o scanner captei todo o seu
registro biológico. Cruzando esses dados com a carga
hereditária, e com o ambiente circundante, isso que os
americanos chamam de environment, faremos um
levantamento de eventuais patologias que estão dentro de
você.”

Acionando mais um computador, cujo zumbido quase
encobriu sua voz, Mc Killan continuou, como se estivesse
falando para si mesmo:
“Ainda acho que é um pequeno milagre. Saberemos do que
você vai morrer, e quando. A margem de erro é muito
pequena, nossa média está em 25 dias.”

Os quatro computadores agora estavam rodando, dois deles
acionando impressoras que cuspiam enormes línguas de
papel.

“Os dados estão sendo jogados”, pensou Grimm.

Mc Killan examinou números na tela de uma das máquinas,
comparou com os papéis da impressora, e sorriu para
Grimm.
“Você vai longe, meu caro. A ética não me permite entrar
em detalhes, mas posso dizer que você foi aprovado nos
exames”.

“Posso saber do que vou morrer ?”, perguntou Grimm ao
sair do consultório.

“Tenha bons pensamentos, meu caro Grimm”, respondeu
Mc Killan.
“Pense em coisas boas, aproveite bem a vida que você tem
pela frente.”

Ao fechar aporta, fez a Grimm uma última recomendação:
“Você é meio sensível, rapaz. Fuja das emoções mais fortes.
Nada de jogar cartas, viu ?”





Hans Dammann







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