...Naquele dia o chão foi nosso colchão. Caí.Firmino caiu em cima de mim. Fiquei com a cara enfiada no chão. Saí dali gemendo, sem localizar a dor, pois todo corpo parecia doer. Quando cheguei em casa, minhas irmãs viram que meu braço estava despencado, ombros desalinhados e andando atravessado, feito caminhão com parafuso de centro quebrado. Chamaram minha avó. Ela trouxe uma solução caseira: sumo de jenipapo do campo, talos de carnaúba para imobilizar o ombro e uma tipóia para apoiar o braço. Não deu certo! Era preciso soldar os ossos, mas eles estavam desencontrados. Finalmente, depois de muitos dias a capengar de dor, chega um amigo de meu pai.
- Antônio, se você quiser curar Diassis, tem que fazer um garrote. Amarre uma corda de um caibro ao ombro dele, passando por baixo do sovaco e dê uma laçada. Vá controlando na corda. Puxe até o braço voltar pro lugar. Depois, faça nova entalação. Prenda bem o ombro, daí a trinta dias o menino tá bom e você pode tirar as talas.
Meu pai laçou o caibro, amarrou meu ombro, deu uma laçada e puxou. Cada puxada provocava uma dor terrível daquelas que o cabra solta um ai sem querer. Só não fiz o serviço na roupa porque não tinha material pronto. Por fim, um estalo e um alívio, tudo estava no lugar. Após um mês, não sentia mais nada, nenhum incômodo, apenas um nó como um caroço de pitomba marcou, por algum tempo, o lugar onde Deus deu alguns pingos de solda.
(O Brasil nosso de cada dia)