Zizeu era o modo carinhoso como todos os parentes chamavam aquele menino de temperamento forte, apesar de um tanto chorão quando queria alguma coisa. Mas, a par dos choramingos, existia um aspecto positivo: a insistência, a tenacidade em busca daquilo que quisesse. Mesmo que, para isso, tivesse que transigir nos ensinamentos que recebera daquele pai austero - gaúcho de fronteira.
Arre, guri manheiro!
Acabava sendo simpático, apenas, com Celinho, um seu consanguíneo, alguns anos mais novo.
A consangüinidade, nem era por laços de parentesco mas, pela similaridade de sangue... Ruim!
Eram unha e carne, até na semelhança de caráter. Diminuto caráter esse que, provavelmente, foi o resultado da forma diminutiva como os tratavam: Zizeu e Celinho.
Foram crescendo e, sempre, um acobertando as tropelias do outro. Ajudavam-se em todas as circunstâncias onde pudessem auferir algum proveito, até mesmo lícito. Esganados! Na infância e na juventude, juntavam-se para poderem conseguir mais guloseimas nas festas das quais participassem. Adultos, continuaram assim, lado a lado no afã do lucro e da posse, o que os tornou milionários.
Burlando o fisco até onde foi possível, enriqueceram sem pagar os devidos dividendos. Mas, o erário público os flagrou. Daí, para safar-se das frias, somente o caminho da política e da “imundade pralamentar”. E, por aí, enveredaram!
Mais feliz nesta empreitada foi o Zizeu; insinuante e pouco escrupuloso, atingiu os mais altos escalões. Mas, não se esqueceu do companheiro e amigo de infância, a quem continuou trazendo a tiracolo, até porque, sua ajuda era sempre providencial para tirar as castanhas do fogo.
Tudo caminhava muito bem, até o dia em que Celinho, já cansado de ter as mãos chamuscadas, resolveu ser mais esperto em não dividir o bolo da forma usual.
Tomou um soco no nariz, em frente a uma multidão de pessoas, durante uma cerimônia. Depois, não se sabe se por vergonha ou medo, mudou-se do país.
Nunca mais foi visto. Dizem por aí, que está morando em Miami.
E tudo, por uma fatia do bolo!