Era uma vez um menininho que vivia sozinho. Ele gostava de viver sozinho, mas também pensava que não queria continuar vivendo sozinho.
O menino sonhava com uma companhia que ele nunca havia tido.
Era um garotinho calado. Possuía seus brinquedos, mas brincava com eles sozinho: alguns carrinhos, uns animaizinhos de brinquedo, e um elefantinho que ele adorava encher a barriga de comida. Ele o partia ao meio, o elefante de plástico se partia ao meio e os dois pedaços se encaixavam, e o preenchia com pedacinhos de papel amassado. Assim, o elefante ficava com a barriga cheia de comidinha de elefante, e se punha a passear no jardim na companhia do menino.
Um dia, numa tardinha fresca de primavera, quando o menininho brincava com seu elefantinho, e o levava para passear no jardim, enquanto o seu bichinho passeava, ele notou uma coisa que nunca antes havia percebido: uma linda borboleta amarela pousando numa florinha azul. O menino ficou encantado com aquela borboletinha, e por algum tempo aquietou-se contemplando a cena.
O menino achou tão bonitinha a borboleta amarela que abria e fechava as asinhas enquanto sugava o néctar da florinha azul, que ele desejou tocar o bichinho, possuí-lo, tê-lo em suas mãozinhas pequenas.
Mas, ao perceber de longe o menino se aproximando, a linda borboletinha de asas amarelas levantou vôo. O menino correu tentando alcançá-la, e quanto mais o menino corria no jardim, entre as plantinhas, mais a borboletinha voava, ora alto ora baixinho, saltitava e parecia dar cambalhotas no ar, parecia divertir-se com o menino, que também se divertia com a borboletinha saltitante, e se foi.
O menininho ficou muito triste, tão triste que ele quase chorou, fez força para não chorar. Ficou quietinho por muito tempo recordando a sua borboleta amarela enquanto fitava o chão.
E então, o menino viu passeando por entre a folhagem seca e galhinhos caídos e espalhados pelo chão do jardim uma joaninha, e outra, e mais outra; havia muitas joaninhas ali no jardim. Joaninhas de todas as cores, e viu que no jardim também havia um beija flor que de vez em quando visitava uma enorme papoula vermelha; uma aranha engraçada que tecia a teia entre os ramos de uma roseira, e um caracol pensativo.
O menino ficou horas observando aquele pequeno mundo colorido repleto de bichinhos interessantes, e todos os dias o menino passou a visitar aquele jardim, e conversar com seus moradores.
De vez em quando perguntava pela borboletinha de asa amarela, e de quando em vez a borboleta voltava para ver como estava o menino, e brincava um pouquinho com ele.
Dias, semanas, meses se passaram, e então, nunca mais, até hoje, o menininho se sentiu sozinho porque agora ele possui muitos amiguinhos, e uma amiguinha especial que de vez em quando retorna ao jardim e deixa um beijo pousado de borboleta no coração do menino.