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Contos-->Um conto misterioso: eu, o amigo e o santo -- 28/01/2001 - 02:10 (Jary Gomes Filho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Inspirado da obra do mesmo autor: O Cavaleiro dos Ventos Messiânicos.

Um conto misterioso: Eu, o amigo e o santo.

Ao caminharmos pelos bairros da cidade por entre automóveis, calçadas e avenidas, deparamo-nos com um indivíduo de meia idade, muito divertido e atirado.
Era o laureado Venâncio, homem de rua, conhecido entre alguns populares como um meio louco e meio mágico, que, de vez em quando, andava pelos parques da cidade, divertindo pessoas feito mascate em praça pública; fazia mágicas e advertia, algumas vezes, até com irreverência os transeuntes, proclamando célebres ditados – o laudêmio os aplicava no seu próprio estilo de vida e para o povo também aconselhava:
- Vou lhes contar as maiores mentiras deste mundo – dizia o festejado - no adágio popular está escrito que “Não há melhor mestra que a necessidade e a pobreza”.– Mentiras! Não acreditem nisto não! - Exclamava - eu digo mais ainda – as necessidades e a pobreza levam-nos ao caos – vocês que não corram atrás do futuro não, para ver. Se não se aplicarem para vencer, onde acharão o caminho? - A necessidade e a pobreza neste mundo de hoje, levam os homens ao desespero, jamais nos ensinarão coisa alguma, nunca as procurem para serem suas mestras porque da necessidade e da pobreza nasceram a ociosidade, a guerra, o crime e a solidão! Casa do diabo, sala da corja e da confusão! - Procurem por Deus, ainda há tempo, para que a necessidade e a pobreza não batam à porta!
- E daí, o que ele quer dizer? – O povo se perguntava, assimilando o lado bom e irreverente de Venâncio que sempre vinha com aqueles longos ditados.
- Posso ser até meio louco - dizia - mas não sou bobo não, porque acreditar nestas asneiras, é como se acreditar que quem espera sempre alcança um dia, ou quem rir por ultimo rir melhor – Ah! Ah! Ah! Eu pago para ver – ironizava - vocês que não corram atrás de seus interesses não para ver se alcança! Estejam atentos; hoje está na hora de correr atrás de Deus porque para muitos homens não há mais esperança, o príncipe da luz cansou de bater nas portas de corações, já se sacrificou demais e lá se vão mais de dois mil anos; parece que todos ficaram cegos, surdos e mudos! Inválidos por incompetência! – De todos os pensamentos, o maior de todos vem da lei: “Amai ao próximo como a si mesmo”. É a lei, a única que derruba a necessidade e a pobreza, a única capaz de equilibrar o meio ambiente, exterminar com a mesquinharia e o ponto fraco do homem, porque a falta de dinheiro é o calcanhar de Aquiles – aí é que o demônio gosta de atiçar, tirar de uns e dar p’ra outros – todavia, vos digo: o dinheiro, embora, seja uma necessidade, está emporcalhando o mundo; na falta ou na abundância, não fará a honra de ninguém! Abram os olhos porque as páginas da história estão virando. Serão recolhidos estes céus e estas terras para que outros mais limpos venham chegando.
O galardoado Venâncio tinha o hábito de parar as pessoas nas calçadas, fazendo mágicas, alertando-as sobre o fim do mundo. Todavia, também, as divertia e em troca recebia gordas esmolas e do aglomerado popular saia uma linda mulher a quem se dirigia:
- Toda beleza é efêmera, como a flor que murcha um dia, aproveite estes raros momentos porque são seus momentos de glória e a glória é um momento, apenas a natureza de um momento, cuide bem dele. A grande vantagem do homem feio sobre o belo - comparava - é que ele ao envelhecer, um dia, continuará com a mesma feiúra de sempre – olhem p’ra mim! – Se mostrava - esta feiúra não acabará nunca! Mas, e a sua beleza? O que acontecerá com ela, um dia? - Questionava, fazendo mágicas, tirando uma flor da cartola para entregá-la, solenemente - cuide bem dela – recomendava.
Em troca, recebia da mulher outra polpuda gorjeta.
Em seguida passara um estudante com livros debaixo do braço e Venâncio falava:
- Já se diziam – “Nunca está só quem carrega um bom livro”, no entanto, em verdade vos digo, estarás cego, mudo e surdo se não abri-lo para ler! – Desta feita, tira do paletó um lenço branco, o amassa na mão e o transforma numa pomba branca que sai a voar e voa bem para longe... – Um bom livro, filosofava Venâncio, faz a gente viajar, às vezes num sonho, ou às vezes na realidade, como a um pombo correio, que vai e volta, trazendo-nos notícias de amor e conhecimentos da verdade!
Recebia mais moedas de gratificação.
O povo ia ouvindo e aprendendo e se divertindo nas ruas, enquanto Venâncio muitas vezes lhe resumia:
- Segundo o pensador: algumas vezes, acontecimentos de ruas trazem ensinamentos como várias enciclopédias e valem mais que mil de uma biblioteca inteirinha! - Mas, não se iluda não, nem sempre isto acontece - advertia - a gente deve andar sempre ligado e como dizem os italianos: “Tudo perde quem perde o bom momento” - olhe aquele senhor! - De um lado vem apoiado na bengalinha, do outro, se apóia no braço das lembranças de sua própria juventude - olhe bem - o que será que já sonhou, aquele senhor, na juventude? – Aproximara-se e Venâncio, tentando diverti-lo, tira da cartola um lenço colorido. Manda que um jovem o segure na outra ponta - assim o fez. Em seguida, determina que o senhor da bengala o observe - perfeitamente, respondia o velhinho - do lenço, o jovem puxa, quando sai a bandeira de Israel - estão vendo? - Indagava Venâncio - O padre Antônio Vieira escreveu um dia - lembrava - “Se servistes a pátria que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis e ela o que costuma” - o senhor ria com vontade exclamando: É verdade! É verdade! - Enquanto apontava a medalha dependurada, tirava do bolso boa gorjeta.
- Israel, a pátria de Cristo – continuava Venâncio - estes dias serão muito difíceis...E comentava, severamente, sussurrando aos pés de nossos ouvidos e se dirigia, dissimulando estas últimas palavras para mim e o amigo Yashimin.
O velho e a bengala continuaram seu caminho. Venâncio e o povo ficaram para trás, tecendo comentários:
- Por quê o velho ficou tão feliz com uma mágica tão boba? Perguntava o jovem colaborador.
- Primeiro porque a mágica pode parecer boba para você, mas, para ele foi muito importante, principalmente, quando o pequeno lenço se transformou em bandeira de Israel.
- Por quê?
- Você não reparou que ele tinha pregado no bolso uma medalha?
- Não.
- Pois é, por isso que você não entendeu nada. A medalha que ele tinha - explicava - é uma condecoração de guerra, ele foi um veterano, um ex-combatente de guerra em Jerusalém.
O jovem meditava e aprendia, refletia muito sobre o assunto e comentava:
- É mesmo - dizia - eu tenho muito que aprender...Preciso aprender a ver, escutar e entender as pessoas ao meu redor, observar as roupas, as aparências, tudo que elas representam e gostam. É preciso compreender todos os acontecimentos ao derredor. Aquele velho era um judeu e eu não tivera capacidade de perceber.Agora eu compreendi o motivo da alegria! – Observava.
- Descobrir, já é um bom começo para o sucesso da sua vida - dizia Venâncio, pois, Cristo quando nos falava estava nos observando atentamente e a cada milagre que fazia, transmitia-nos seus ensinamentos e um novo mundo estava acontecendo! Quantas vezes Ele nos alertava: Quem tem ouvidos para ouvir que ouça!
- O quê lhe parece? - Perguntava-me Yashimin.
- Parece-me uma testemunha profética – vamos falar com ele e perguntar porque ele tocou-nos com o nome de Cristo, a pátria de Cristo, severo, entre sussurros e se dirigindo a nós disfarçadamente.
Esperamos um pouco até que Venâncio percebeu que queríamos conversar com ele.
Fez discreto sinal para aguardar. Aguardamos sentados no banco da praça e já eram quase vinte horas.
Olhávamos e víamos de repente, crianças, muitas crianças, chegando rapidamente ao redor, vinham lá, não sei de onde...Correndo na praça, fazendo algazarras e soltando fogos de artifícios que coloriam e pipocavam à noite. Queimavam estrelinhas e fogos de São João, estalavam bombinhas e incendiavam pequenos vulcões coloridos.
Soltaram um busca-pé que correu atrás de Venâncio, um meio louco e meio mágico que andava pelas ruas a fazer mágicas e advertir as pessoas, algumas vezes, até com célebres pensamentos...
As crianças passaram em menos de dez minutos à semelhança de um vendaval, logo em seguida a calmaria voltou, a praça esvaziou-se num silêncio profundo e ficamos eu, Venâncio e Yashimin dos que sobraram.
Baixou uma nuvem muito densa que se misturou com a fumaça dos fogos de artifícios encobrindo do poste a luz que se anuviou. Quem aproximasse mal e mal poderia perceber, que ali naquele banco, abaixo, estavam sentados três homens a conversar calmamente:
Venâncio dizia – Leio seus corações.
Yashimin – Como assim?
Venâncio – Simplesmente os leio.
Eu me intrometia – De que maneira?
Venâncio – Vocês querem saber quem eu sou, não é?
Eu respondia – Naturalmente.
Venâncio – Eu sou aquele que preparou os caminhos do Senhor, já ouviram falar de mim?
Yashimin –Como poderíamos desconhecer tão sagrada criatura?
Venâncio – Viram aquela algazarra? A gurizada soltando fogos de artifícios? Colocando um busca-pé correndo atrás de mim?
Eu – Sim; achei aquilo até muito engraçado.
Venâncio – pois muito bem, eram anjos da família dos Querubins.
Eu – Mas, o quê eles estavam fazendo por aqui?
Venâncio – Os Querubins estavam fazendo o quê eles mais gostam de fazer neste nosso mundo: brincar! Brincavam comigo de como dizer p’ra vocês que eu sou um certo santo Batista e eles me fogueteavam como se fosse a minha festa de São João - estes entes vivem no interior do espírito da felicidade de cada um, brincam o tempo inteiro para suprir a necessidade de rir quando lhe for tirada. A necessidade de chorar quando lhe for abafada e a necessidade de se acariciar quando lhe for negada. Onde houver crianças neste mundo, podem crer, estes anjinhos estarão por perto, amplificando a inocência e as dimensões no coração de cada homem, são como indutoras das cócegas de barrigas, ficam bem no âmago e ao redor da intimidade do indivíduo.
Eu – Mas, desta vez, o quê um santo do seu quilate estaria fazendo por aqui com seus Querubins, num século como este?
Venâncio – seguindo o meu destino, preparando as veredas do Senhor.
Yashimin – Também? Na segunda vinda? Mas, e a cabeça do João? Não foi decepada?
Venâncio – Uma cabeça a mais e outra a menos em mim, será sempre eu com outro nome. Não fará nenhuma diferença. Tu não sabes que já sou eterno?
Eu respondia – Não.
Venâncio – Sou.
Yashimin – Santo Venâncio?
Venâncio – Sim.
Yashimin – Um santo...Meio mágico e meio louco?
Venâncio – Não!
Eu – Deus Seja Louvado!
Yashimin – Amém.
O Santo – Até o último dia.
Eu – Quê dia?
O Santo – o dia do fim.
E desapareceu na fumaça dos fogos de artifícios...

Autor: Jary

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