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Contos-->A Ressaca -- 16/01/2001 - 19:13 (Roberto Cursino de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Ressaca

Ela chegou de mansinho, sem alarido e sem pressa. Durante toda a vida ele duvidara que um dia ela chegaria realmente. Duvidara até mesmo de sua existência. "Vou morrer jovem aos 100 anos" - pensava.

Aos 15 aprendeu a beber e a gozar a vida como ela deveria ser: alegre e retumbante. Conheceu logo os prazeres do sexo. Cada mulher desejada era uma paixão intensa e um fogo inextinguível. Cada mulher possuída era uma vitória. Cada copo de cerveja era o néctar dos deuses - delícia nunca antes experimentada.

Aos 18 curou-se com extrema rapidez de uma gonorréia que pegara de uma meretriz e orgulhou-se então de sua saúde de ferro. Mas passou a escolher as mulheres com quem saía e se deitava. Da cerveja passou aos vinhos e dos vinhos aos destilados nobres - uísques, gins, vodkas e tequilas. Aprendeu a fumar. Tinha uma elegância de causar inveja aos moços do seu tempo. As moças suspiravam por um partido assim tão bom. Ingressou na Universidade.

Aos 24 formou-se advogado e ganhou muito dinheiro fazendo a defesa dos ricos e dos poderosos. Correu mundo e conheceu os prazeres da fortuna, da gula e da luxúria. Nesta época colecionou mulheres brancas, negras e amarelas. A vida lhe sorria e lhe dizia que não parasse, que buscasse a felicidade no frenesi dos sentidos. Conheceu o poder, foi coadjuvante de políticos de grande prestígio. Foi devasso, foi bêbado, foi louco, foi atleta, foi arrojado, foi lutador, foi amante. E foi assim amando de amor em amor que um dia foi flechado por Cupido e casou-se.

Aos 35, com quinze quilos a mais, já tinha quatro filhos. Não acompanhou a mudanças nas Leis e nos Códigos, porque não havia necessidade de trabalhar mais: o que tinha amealhado até então era suficiente para uma vida feliz e abastada. "Porque querer mais se eu já sou feliz?". Uma bela mulher, filhos sadios, dinheiro no banco, saúde, juventude - "Viva a vida!".

Aos 40, enfrentou a crise nacional como um obstinado. Enquanto muitos derrocaram e faliram, ele saiu ileso. Para manter o excelente padrão de vida da sua família apenas tivera de fazer "pequenas" concessões: trocou os destilados nobres pelos vinhos, depois os vinhos pela cerveja e finalmente a cerveja pela cachaça. Os cigarros com filtro deram lugar aos sem filtro. A escola particular dos filhos foi substituída pela pública, o carro pelo táxi e depois pelo ônibus. A mulher conseguiu emprego e ele tornou-se o rei da jogatina, onde dizia buscar a recuperação do dinheiro perdido para o governo corrupto. Redescobriu a prostituição e foi perdendo gradativamente seus valores.

Aos 50 só sobrara o vício. Já era avô e ainda não se apercebera da sua proximidade. Quando deu de si, a velhice o pegou. Morreu velho aos 55. De ressaca.

Roberto Cursino de Moura, São José dos Campos, 11 de julho de 2.000
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