Usina de Letras
Usina de Letras
33 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62351 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22544)

Discursos (3239)

Ensaios - (10412)

Erótico (13576)

Frases (50728)

Humor (20056)

Infantil (5476)

Infanto Juvenil (4795)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140851)

Redação (3316)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6224)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->CASO DE AMOR -- 07/01/2001 - 20:57 (Mario Jacoud) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CASO DE AMOR

O Delegado Simão deu um soco na mesa. “Silêncio, um de cada vez, não basta me trazer uma confusão dessa e ainda falam os dois ao mesmo tempo”? Voltara há um mês para a cidade natal, pequena comunidade do interior, após muitos plantões na capital. Esperava pouco trabalho até a aposentadoria, bem próxima. O soco não era de nervoso, era um expediente que usava só para impor respeito, tinha aprendido na cidade grande, entre outras coisas, coisas que não gostava de falar. “Antes de mais nada, Dona Zitinha, minhas condolências pelo passamento do Seu Antonio, é amanhã a missa de um mês, eu sei, estarei lá, já que não fui no funeral. Fale a senhora primeiro, qual o caso”?
Dona Zitinha encheu o pulmão de ar e o coração de vaidade e orgulho, cruzou as pernas, que ficavam mais bonitas ainda dentro do vestido de luto. “Sabe o senhor que sempre fui mulher séria, honesta, freqüentadora da igreja do Padre Albino, Filha de Maria, que sempre respeitei meu falecido, que Deus levou em hora errada, nem sei se tem hora certa para Deus fazer essas coisas com a gente, que o coitado sofreu muito de doença ruim, que fiquei do lado dele, dando remédio e confortando na sua dor, até o dia que foi para o hospital esperar a hora da morte, onde cumpri todos os horários de visitas, com a ajuda de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Virgem Maria. Sabe o senhor que esse homem que está aqui, Seu Juvenal, é compadre meu, viuvo de Dona Nena, que Deus levou por achar que tinha chegado a hora dela. Pois, Doutor Simão, não é que esse homem aparece em minha casa, com o fim de tomar um café, como ele disse, e não é que quando estou passando o café ele me agarra pela cintura, assim por trás de mim, de um jeito que homem nenhum já fez, visto que só tive o falecido na minha vida, e o falecido era respeitador que o senhor só vendo. Coisa que eu podia resolver sozinha, que não gosto de trazer problema ao delegado, nem sou mulher de entrar em delegacia, sendo essa a primeira vez. É que bem na hora que esse compadre perdeu a razão de homem, e que eu, assustada que estava, me mexia para lá e para cá tentando me livrar dos braços dele, e que ele mais me apertava, o sem vergonha, meu filho, que o senhor conhece, entrou pela cozinha adentro e correu para o telefone da vizinha, a Dona Lica, e pediu a rádio patrulha. Boa intenção do menino, que é o que me resta, já que escutou meus gritos de me larga seu safado. O guarda disse que é atentado ao pudor alheio, tentativa de estupro e não sei mais o que, no que concordo com ele. O compadre, companheiro de pescaria e jogo de bola do falecido, que jogava cartas em casa todas as noites! Tinha reparado, que o Doutor me permita, que desde que Dona Nena morreu, o compadre me olhava de outro jeito. Sabe o senhor, na sua inteligência de homem de estudo, que mulher percebe quando um homem olha para ela com outros olhos que não os de sempre, os de respeito. Pois acho que minhas pernas tem até marcas do olhar desse safado, com o perdão da palavra mal posta. Que descartava até carta boa, perdendo o jogo, olhando por baixo do óculos enquanto eu costurava a roupa do falecido, que, graças ao Senhor Bom Deus, não está entre nós para ver pouca vergonha desse jeito. Pudesse o Padre Albino quebrar voto de silêncio e falar tudo o que já contei para ele, que, na sua santa paciência, pediu calma e que não contasse ao senhor meu marido. Agora, já que o caso está na delegacia, contra minha vontade, que não sou mulher de escândalo, quero que o doutor dê punição exemplar e cristã a esse que infringiu a lei, como disse o guarda”.
Bigode devidamente coçado, Delegado Simão interpela a outra parte: “Seu Juvenal, estou pasmado, dê sua versão dos fatos, e que seja convincente”.
Seu Juvenal levanta-se. “ Doutor, quero ser digno do seu entendimento e tambem da senhora viúva, minha comadre. Sou de bem, tanto como ela, e o senhor é testemunha, pergunte para suas irmãs e primas se, alguma vez, uma só, dirigi qualquer palavra que não seja de respeito, e olhe o Doutor que são bonitas as meninas, mexem com o sonho dos homens dessa cidade. Mas não comigo, viúvo que preza a memória da falecida. Não está em minha vontade negar o acontecido e, se sua autoridade decidir, responderei pelo crime cometido. O que ocorre é que tenho ficado só, desde que minha Nena morreu, faz um ano. Minhas necessidades de homem tenho levado para a casa de Bibinha, que o doutor tão bem conhece, já que lá esteve em diligência. Acontece que , desde minha viuvez, a comadre vem me olhando com olhos iguais aos da Bibinha, olhos que o senhor já viu, em diligência, claro. Eu, que sou bom de baralho, jogando com o finado, descartei carta boa sim, mas porque a danada cruzava e descruzava as pernas e nem sei, perdão das palavras, se usava roupa de baixo. E a roupa de luto, doutor? Como cai bem nela, roupa preta em pele branca, as partes querendo pular para fora. Quanto ao fato acontecido, tenho que dizer que esperava o café na sala, quando ela me chamou na cozinha. De costas para mim, o vestido recheado das carnes de trás, abracei, doutor. E, a bem da verdade, ela se mexeu sim, para lá e para cá, mas não era para fugir, era para se ajeitar melhor em mim. Quando o pirralho chegou ela gritou, parecendo em aflição, mas era mesmo de vontade. Quantas noites passei com ela em meus sonhos, sempre respeitando o falecido, cheguei a fazer coisas comigo mesmo que não fazia desde criança. E para terminar o que tenho a dizer, peço que o senhor leia esta carta, escrita pelo falecido, que Padre Albino me entregou logo cedo”.
Doutor Simão, meio que desconfiado, pede à viuva que reconheça a letra. Letra reconhecida, começa a leitura. ”Guaraçaí, tanto de tanto de mil novecentos e tanto. Prezado amigo e compadre Juvenal. Descobri hoje que estou no fim, doença ruim, minha Zitinha escondeu de mim o tempo que pode. Padre Albino entregará esta carta para você trinta dias depois da minha morte. Se ele se atrapalhar, como sempre, e entregar antes do dia marcado, lembre-se que exijo trinta dias, para evitar falatório. Sei do seu interesse pela minha Zitinha, percebi algumas vezes como o compadre olhava para ela. Tambem pudera, descartar carta de canastra! Pensa que não vi como ela mostrava as pernas? Pensa que não reparei que, nos dias de sua visita, era outra na cama? Cheia de desejos. Pois é compadre, nova e bonita como ela é, não quero que caia em mãos alheias, por isso peço que tome conta dela, e que Deus abençoe o desejo dos dois. Assinado, Antonio”. Delegado Simão, cumpridor da lei, e ante o inusitado, resolve dar fim ao caso. “Dona Zitinha, formalize a queixa para as providências de praxe”.
Dona Zitinha levanta-se, ajeita a roupa de luto. ”Doutor, veja o senhor que bela confusão armou nosso Padre Albino, e o compadre nem se deu conta. A missa de trinta dias é amanhã. Espero o compadre para um cafezinho”.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui