Contos Pequeninos e Surrealistas do Inconsciente
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Tinha os olhos trocados. Olhava para as pessoas como se quisesse que elas não percebessem. Seu olhar, a rigor, era contra. Contra o seu foco. Contra o governo. A favor do povo.
Usava óculos de perto, para enxergar bem longe. E óculos de longe, para enxergar bem perto. E às vezes não via nada. Ou se via, não gostava. Mantinha-se calado. Atirava ,sempre a primeira pedra. Quebrava vidraças. Gritava e berrava por mais justiça. Partindo de qualquer premissa. Mas depois passou a ter alergia. Fico gripado. Mudou sua fisionomia. E sua filosofia. Mudou de clima.
E passou a ser um sujeito muito fresco. Tinha, no carro, em casa e no escritório, sempre ligado, no mais alto grau, o ar condicionado. Para o caso de ser ligado.
Amava a democracia. Enquanto ela lhe rendesse benesses. Fizesse o que ele fizesse. Ninguém copiá-lo poderia. Ele era igual ou pior do que seus antecessores. Era o dono do circo dos horrores. E até sorria do que deixava de fazer; e, até mesmo, do que faria se tempo houvesse. Faltava estudar francÊs ou alemão. Ser um homem do mundo. No dizer do anarquista mais rotundo.
Candidatou-se às eleições. Na forma da Constituição, devidamente amparado. Pertencia ao crime organizado. E respondia a diversos processos. Por crimes hediondos e por tráfico de drogas; os mais cotados. Mas, a seu favor, não tinha sentença transitada em julgado. E a reforma política estava sendo deixada de lado. E assim, o crime compensava. Ao ser eleito, a imunidade parlamentar o agasalhava. E o protegia contra qualquer resultado. De seus processos, quiçá, um dia, responderia.
O outro conheceu a fome de perto. Ele passava fome, como qualquer um passaria. Mas chegou ao topo da árvore: um pé de feijão, que chegava aos céus. O feijão e o sonho; toda sua atenção chamaria. E assim veio o marco zero; a falta de apetite, A fome zero. Qualquer semelhança, é claro, terá sido mera coincidência. E viva a reforma da previdência. Ou da providência. Na França e na Alemanha, o povo nas ruas, a violência. A greve, como instrumento, é ilegal. Pena que o aposentado não pode dela, fazer uso integral. Gregos e troianos. Palestinos e Israelenses. A guerra do Afeganistão. E a guerra do Iraque, a invasão. A morte de crianças na escola da Rússia.
O rei da Prússia. O filho de Putin, se é que o tem. Salvou-se da carnificina. Que nunca termina. E agora, José? E agora, Raimundo? A quem me refiro? Ao Fernando ou ao Waldomiro? Liberdade de expressão, andando na contramão da história. Nosso presidente, como eu, parece que perdeu a memória. Eu não sou robot e posso discordar. Mas, por isso mesmo, mandamos expulsar. Quem viver, verá.