A PRAÇA, A MANHÃ E O HOJE
(Por domingos oliveira Medeiros)
Era um daqueles pequenos caminhos, que se cruzam por entre árvores, lagos e bancos de praças. De algumas cidades e praças que conheci. E que me lembro, ainda, com certa saudade. Bons tempos! Lá estava eu. Era manhã. Dessas manhãs límpidas e com o sol mais para fraco. Digamos amarelado, porém aquecedor. Que acordava, com carinho, as gotas de orvalho adormecidas sobre as folhas, na sua maioria, verdes; que pendiam de verdes galhos. Verdes de todas as cores.
Inerte, fui surpreendido pelos pássaros que, numa saudação espontânea, enchiam a praça com suas canções matutinas. Em seguida, numa alegria impetuosa, batiam em revoadas circulares, formando um conjunto de bailarinos gritante e harmoniosamente unidos.
Caminhava pelo parque, observando as folhas que se desprendiam das árvores, para formar um imenso e natural tapete, que enfeitava o chão da praça compondo a paisagem daquele dia. Compósição que durava até que o sol, quando mais quente, viesse secar as folhas, cumprindo o ritual da natureza, einiciando a paisagem do dia seguinte.
Adiante, uma simpática ponte convidou-me ao outro lado da praça. Fui até lá. Até um lago. Pude contemplar o seu interior festivo e buliçoso.
Pude ver o passeio de pequenos peixes que, àquela altura, formavam remoinhos, que piscavam e sorriam, humildemente, de baixo para cima, para quem se dispusesse ou quisesse admirá-los.
Debruçado sobre a ponte, contemplava tudo aquilo quando, de repente, o metal frio da pulseira do relógio, em contato com outras partes de meu corpo, chamou-me a atenção para a hora. Para o dia. Para o mundo. Para o que tinha de fazer, melhor dizendo, para o hoje. Para o já. Para o dali a pouco.
Assim, despedi-me, rapidamente, daquela manhã, daquela praça, e, com pressa, atravessei a rua que a circundava, àquela hora já entulhada de carros empoeirados e barulhentos. Todos conduzidos por pessoas de vários rostos. Algumas sérias, outras nem tanto. Com expressões carregadas, trocavam olhares diversos e enigmáticos e, vez por outra, até insultos. Era um desfile monótono. Carro, após carro, escorrendo em duas direções: Enquanto alguns iam, outros vinham. À noite, ao voltarem, trocavam de sentido.
Na verdade, era como se os motoristas não tivessem para onde ir. Pelo menos, faltavam-lhes a certeza. Andavam sem rumo. Não sabiam de um lago onde pudessem olhar, com profundidade, para o seu interior. Não conheciam, desse modo, outras alternativas para formas, movimentos e cores escondidos em remoinhos e lagos de tantas praças, de tantas cidades.
Tesouros que muitos julgam inexistentes, mas que, na verdade, encontram-se submersos, em naufrágios que aconteceram, até mesmo, em outras vidas. Tesouros que não se descobrem sem a ousadia de parar no tempo e atravessar pequenas pontes, para chegar ao outro lado e poder constatar que cada praça pode ser vista de vários ângulos. Todos irradiando belezas e riquezas até então desconhecidas e inimagináveis. Principalmente quando se tem que estar dentro de um automóvel, sem rumo. Apenas, com os relógios nos pulsos, indicando as horas; sem indicar outras formas de tempo. A não ser aquele que passa despercebido.
Aquele hoje de tempo, identificado como moderno, progressista, científico e tecnológico. Um tempo, sem tempo. Vazio. O que fizemos, hoje, de útil ou de bom para nós e para o próximo? O que mais poderíamos fazer? Há causas, pelas quais vale a pena empreender nossa luta diária. Basta que estejamos dispostos a olhar para os lagos e as pontes. E seguir em frente.