Não me parece tão óbvio assim, caro amigo Athos. Primeiro que, no seu artigo,"Óbvio lulante..." , você deixa claro que, em tese, o Lula teria ganho a eleição por conta das coligações que fez, inclusive e principalmente com o PL. E faz a indagação de que, sem o PL, se o Lula estaria hoje na presidência. Não sei se estaria. Mas de uma coisa eu tenho certeza: antes só do que mal acompanhado. Se o partido coligado é reconhecido, POR VOCÊ MESMO, como eterno adversário do PT, isto então significa que estivemos - voltando um pouco no tempo – diante de uma traição anunciada? Que a coligação se fez, apenas, para ganhar as eleições? Que não houve compromissos de ordem programática? Se houve, o PT concordou, naturalmente, em abrir mão de algumas de suas idéias. O que me parece óbvio. E que, ao assumir o poder, não terá como agir diferente. Seria pura traição.
E se o Ciro tivesse sido eleito? Seria diferente? Creio que sim. Do mesmo jeito que você indaga a respeito, acho que sim: se o Lula viesse a ganhar as eleições sem o PL, aposto que sua conduta, hoje, seria outra.
Portanto, meu amigo, não vejo outra saída. Se o caminho a ser construído, segundo sua opinião, deverá ser aos poucos, com o que concordo em parte, por outro lado, não é menos verdade de que toda caminhada começa com o primeiro passo.E o primeiro passo do governo Lula não foi dos melhores. Aponta para outro rumo. Um rumo já conhecido e desgastado.
O rumo da Reforma da Previdência, nivelando os servidores e trabalhadores por baixo, e privatizando a Previdência; o aumento dos juros; a obediência aos ditames do FMI; o valor do salário mínimo; o contingenciamento orçamentário e o excesso de discursos, lembram FHC.
Não se falou, concretamente, até agora, em empregos. Nem no primeiro nem nos demais. Há silêncio quanto à retomada do crescimento econômico. Parece que a economia esgotou seus recursos. O que não é verdade. A economia é atividade-fim. Quem comanda, ou deveria, pelo menos, comandá-la, seriam as políticas e as diretrizes traçadas pelo governo. Não existem políticas. Parece que o PT e afiliados não tinham um programa de ação definido, tal o nível de improvisação, de incertezas, de que se revestem as primeiras ações.
O Gustavo Patere tem razão num ponto. Se o Lula errar, todo o sistema político estará comprometido. Ninguém acreditará mais em nada. E tudo poderá acontecer. Quando se perde a esperança e a credibilidade, o país descamba para a falência.Vide a Argentina.
E o mal se corta pela raiz. Tem-se que atacar o primeiro e maior problema: o endividamento crescente de nossa dívida.. Sem uma renegociação da dívida (não é calote)não há saída. O resto é pura balela. Propaganda do Duda Mendonça. Conversa pra boi dormir.
Não se trata de criticar o Lula. Ele é o menos culpado. Mas seus assessores, sim. Insistem na política do endividamento e da subserviência ao capital estrangeiro. E na "independência" do Banco Central. Esse caminho é o errado. Alguns petistas até já se posicionaram neste sentido.
Claro que ainda confio no Lula e na mudança de rumos. Afinal, a palavra de ordem da campanha era essa: MUDAR O BRASIL.
Porém, quanto ao fato de que ainda é cedo para cobrar resultados, não concordo: as reformas estão, pelo menos, oito anos atrasadas. E os métodos iniciais apontam para a continuidade de uma política desastrosa, levada a efeito pelo ex-presidente FHC, que resultou num nível de endividamento incompatível com qualquer equilíbrio econômico-financeiro, necessário para a retomada do crescimento econômico, que não se faz sem recursos para investir.
Domingos Oliveira Medeiros
16 de fevereiro de 2003