Mensagem referente ao texto A carta de meu irmão Pedro Wilson - Cartas.
Querida Gina,
Que bom receber a sua mensagem. Eu que pensava ter sido esquecido por você. Lembro-me bem de sua infância. Você era uma menina meiga e inteligente que a todos cativava.
Realmente, não gostei de sua opção pela Psicologia, por ter sempre duvidado dos ensinamentos contidos nos livros sobre a matéria (ao cursar Administração de Empresas em Brasília, tive um ano de Introdução à Psicologia). Em minha opinião, cada ser humano merece tratamento específico e não ser colocado numa matriz, como se cada um de nós não tivesse a sua individualidade. Hoje, já respeito a Ciência, por ter correntes mais flexíveis no estudo da mente e do comportamento humano.
Já a torcida pela escolha da outra alternativa (Direito) deveu-se a dois fatores: a) há mais empregos com boa remuneração, tanto no setor público como no privado; b) a mana, a meu ver, possui todos os predicados para ser uma excelente advogada ou mesmo uma juíza de primeira linha.
A propósito, não consegui convencer meus filhos a ingressarem em faculdade de Direito. O Pedro Henrique preferiu a Engenharia Elétrica e a Economia e o Wilson a Comunicação Social. Já a Ana Lúcia, após passar por Cursos de Economia e Arquitetura, só agora resolveu estudar Direito (não sei se a escolha teve por objetivo agradar o pai). Entendo que ela se dará muito bem com o estudo das nossas leis e com a defesa da Justiça.
Fiquei surpreso ao saber que você andava lendo meus livros na adolescência. Se eu soubesse não teria deixado "A Carne" ao seu alcance.
Há dias, recebi uma mensagem do Géber dizendo apreciar uma certa nostalgia no que escrevo. Devo dizer que a minha infância, aliada ao meu momento atual, foram bastante ricos e intensos.
Mamãe conta que, pequenininha, eu dizia que iria me casar com você...O que mais uma criança pode desejar além de um parceiro que viaje com ela para o Sítio da Dona Benta? Alguém com quem tenha cumplicidade suficiente para surpreender o Pedrinho lendo na rede, curtir o Crusoé e o saci-pererê ( que vc. jurou ter visto!...), observar filas de formigas carregando pedaços de folhas e gostar tanto de rocamboles e cajuzinhos.
A sua coleção de selos propiciava viagens...Você tinha até "olho-de-boi"! Nossa!...Eu ficava surpresa:...pela sua correspondência com a belga Marie Claire, com as maravilhosas revistas em quadrinhos (ah, o Super-Man!...) e até mesmo com os seus drops de aniz, comprados no Seu Esteves.
Você começou a trabalhar cedo, creio que no Correio da Manhã...Acho que tinha quatorze anos, não? Casou-se cedo também...em torno dos vinte ou vinte e um. Mas tinha um lado criança divertidíssimo...que espero não tenha perdido.
Com você (talvez sejamos os únicos apaixonados por animais na família...), aprendi que se pode ser herói no dia-a-dia ( lembra-se da tala que colocou na perna fraturada de um gatinho?) e que tudo se presta a uma boa argumentação...Desculpe-me, irmão, mas você é um grande polemizador! (quase me fez rebatê-lo e dizer que, apesar de termos caninos, a extensão do nosso intestino é bem maior do que a dos carnívoros, o que não o torna apropriado para o consumo da carne...)
Veja bem!...O que mais posso querer, se você me transmitiu: o amor pelos animais, o gosto pela leitura, a capacidade de sonhar e a lógica necessária para a defesa de uma idéia?
Temos diferenças também...Você gosta de genealogia...Eu, de imaginar frases que nossos antepassados lançaram ao vento, intuir amores ocultos, conflitos, razões. O Pedro é mais incisivo em suas convicções (teimoso, eu diria!...). Talvez por isso tenhamos tido sucessos diferentemente, cada um de nós dando o recado para o qual aqui veio...
Que o meu carinho chegue até você com a rapidez do vôo daquela cigarra... Lembro-me bem de quando a libertou da caixinha de fósforo, num lindo entardecer de Leopoldina...
