Autor: Marcel Agarie
Data: 21/05/02
Crônica: “Verdadeiro amigo”
Como já diziam os sambistas Guilherme de Brito e o mestre Nelson Cavaquinho:
“... Em mangueira, quando morre um poeta, todos choram. Vivo tranqüilo em mangueira porquê. Sei que alguém há de chorar quando eu morrer...”
Não foi ninguém que me disse, foi eu mesmo que deduzi, mas amigos, principalmente os verdadeiros, aparecem por acaso. Surgem de repente, em momentos que menos esperamos e sem pedir licença ficam pra sempre em nossos corações. Amigos assim são poucos, são raros. São como “goiabadas cascão em caixa”, difíceis de encontrar, e que por isso, deve ser saboreada aos poucos, em doses cadenciadas, para que na última batida que marca o compasso vida, tenha uma eternidade feliz.
Amigos verdadeiros são autênticos como “filosofias do samba”(Candeia), escritas em papéis de pão, em guardanapos de buteco, ou até mesmo em rimas de improviso feitas “de qualquer maneira”(Candeia). E nessas horas, é preciso mostrar habilidade e usar muito a “imaginação”(Candeia) para não ir “para o lado de lá” do samba (Candeia/Euclenes). Mas se não houver jeito, não fique triste, pois tudo isso “acontece”(Cartola/Osvaldo Martins), e se preciso, esperarei o seu “regresso”(Candeia) pelas “minhas madrugadas”(Candeia/Paulinho da Viola) sem arrependimentos. E mesmo que as nuvens cobrirem a linda “alvorada”(Cartola/Carlos Cachaça/Hermínio de Carvalho), tenho a profunda certeza que “o sol nascerá”(Cartola/Elton Medeiros) quando você aparecer.
Falarei de meu “amor proibido”(Cartola), “sim”(Cartola/Osvaldo Martins), enquanto você me falará de seu “peito vazio”(Cartola/Elton Medeiros). Me contarás tudo que “aconteceu”(Cartola), demonstrando que tens “sentimentos”(Mijinha). E num gesto de apoio, eu tentarei olhar para você que “disfarça e chora”(Cartola/Dalme Casteli). Então, levarei você até a minha “sala de recepção”(Cartola) e aconselharei a não “acreditar”(Yvonne Lara/Délcio Carvalho) em “falsas juras”(Casquinha/Candeia), lembrando que o “mundo é assim”(Alvaiade) mesmo.
Por isso, não se abata! Não deixe as “rugas”(Nelson Cavaquinho/Ary Monteiro/Garcêz), tomarem o lugar de sua eterna “alegria”(Cartola), e venha tocar as “cordas de aço”(Cartola) de seu violão “no pagode do Vavá”(Paulinho da Viola), afinal, você não cometeu nenhum “pecado capital”(Paulinho da Viola), e mesmo que tivesse cometido, não esquenta porque Deus “perdoa”(Paulinho da Viola).
Agora “vou partir”(Nelson Cavaquinho/Jair Costa) por um caminho cheio de “folhas secas”(Nelson Cavaquinho/Guilherme de Brito), mas antes, “preciso me encontrar”(Candeia) e restabelecer o meu rumo ao imensidão azul, para ouvir o som do “sábia cantador”(Alvarenga), descobrir os mistérios da “noite que tudo esconde”(Alvaiade/Chico Santana) e provar para o “Benjamin”(Josias) que sou “Portela desde que eu nasci”(Monarco).
“Este texto é totalmente dedicado para meu amigo Jano. Sambista da melhor qualidade e participante de campanhas sociais em benefício às famílias mais humildes. Uma pessoa de inteligência invejável e de alto poder de compreensão em todos os sentidos. Apreciador do verdadeiro samba de raíz e parceiro para toda obra. Fica aqui a minha homenagem, o orgulho de tê-lo como amigo e um enorme abraço do coração”.
Marcel Agarie
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