Soube hoje e estava me preparando para a despedida formal de sétimo dia.
Frente ao espelho cortava a barba, pensando, relembrando São Vicente; sempre tão importante parte desta minha passagem.
Vou olhando meus cabelos, todos brancos. Minha pele, toda sulcos, toda tempo. Tempo que passa e que marca. Marca profundo no corpo, na alma a passagem neste mundo.
A despedida no templo é mais um ato social. Seu filho, aquele a quem chamávamos pelo diminutivo da forma de tratamento dada ao pai e que foi meu companheiro de classe; já não o reconheceria, depois desses trinta e muitos anos passados. Mal reconheço a mim nesta figura envelhecida.
Sua filha, professor, eu a vi somente naquela tarde, no ano passado quando fui visitá-lo em casa dela. Um vulto furtivo e respeitoso, que deixou a sós o pai e seu velho aluno em momentos de recordações.
Farei então, meu amigo, a minha prece de despedida no templo maior da Divindade. Sob o céu triste e enegrecido que, travestido em luto, se despede com essa salva de trovões e estas copiosas lágrimas tamborilando no zinco do telhado.
Os pés descalços; compor-me-ei com a natureza e se lágrimas houver que derramar serão puramente de alegria e, um tanto, de egoísticas saudades; revendo o rosto amigo, a fala mansa e conselheira, companheira de meus caminhos pedregosos e escorregadios de uma juventude só e em terra estranha.
Cumprida esta etapa a essência vai habitar templo maior; não só limites.
Sois agora, mestre, apenas luz.
A homenagem simples, mas sincera a um professor que, como tal, foi coadjutor da formação do caráter e da cultura. Este, porém, foi para mim muito mais. Foi um amigo e quase um pai em momento em que esta presença se fazia necessária. Oswaldo Borges da Fonseca (Professor Borges): minha eterna gratidão e, até mais ver!