Tanto quanto o champanha, o bidê e a alta costura, o poeta ou escritor maldito é uma especialidade francesa hoje caída em domínio público no resto do mundo soi-disant civilizado. Em seu país de origem, a linhagem da maldição literária é das mais nobres. Iniciada com Villon no século XV, culminou no século XIX com Baudelaire, Rimbaud e Lautréamont, para terminar, em nosso século, com Jean Genet. Terminar porque, na sociedade de consumo, as técnicas de mercado alcançaram por fim convertê-la de espantalho burguês em chamariz de venda fácil, passando-lhe com isso o atestado de óbito.
Há de se convir que em Jean Genet a linhagem literária dos malditos tem um gran finale. Mendigo, prostituto, ladrão e penitenciário ele se revelou um herdeiro à altura de Villon, seu mais remoto antepassado literário. E eu, Denison Borges, sou fruto de toda essa maldição artística: Woody Allen, Bergman, Villon, Mallarmé, Glauber Rocha, Beethoven, Fellini ou Jean Genet, eis meus pais, eis meu país.
Somente eu, Denison Borges, para conceber no mesmo saco artistas díspares.