O indicativo de que se deve olhar as coisas pelo lado positivo não se restringe ao campo das verdades aparentes ou relativas. Haja vista o exemplo do horário eleitoral gratuito que, de tempos em tempos, inunda nossos lares de caras e caretas, de pau ou de madeira, regadas à óleo de peroba.
Entretanto, o horário eleitoral gratuito não é esse bicho papão que apregoam. Graças a ele pudemos restabelecer maior aproximação com a família, sem que houvesse a incômoda interferência da televisão.
Fiquei sabendo, por exemplo, que o Bruno, o caçula, é grande músico e bom desenhista, além de gozador nato. Já montou, inclusive, uma banda de rock.
Já o Leonardo, que vinha apresentando um decesso escolar, aproveitou o horário eleitoral para dedicar-se inteiramente a revisão de seus pontos fracos e, diga-se de passagem, já apresentou acentuada melhora no seu rendimento escolar.
O Alexandre, o mais calado de todos, tem participado das discussões com os irmãos e, de certa forma, até me surpreendeu pelo interesse demonstrado pela pesquisa científica e tecnológica, e a facilidade com que discute o assunto.
A Andréa e o Fábio, os mais velhos, estão a procura de emprego. Em casa, ouvem música e retomaram, à noite, a leitura de alguns contos e romances que deixaram de lado quando passavam horas ligados na programação da telinha.
A mulher encontrou tempo para levantar alguns problemas pendentes e apresentar sugestões para a solução dos mesmos. Outras vezes, conversamos sobre coisas amenas, relembrando fatos e delineando novos sonhos para o futuro. Estamos nos conhecendo de novo.
Tudo isso em apenas uma hora, tempo de duração do horário eleitoral gratuito. Mesmo quando, por força do hábito ou por engano, ligamos a televisão no horário eleitoral gratuito, ficamos sabendo muito pouca coisa acerca de planos e programas de governo. Nestas horas, prá dizer a verdade, nos divertimos muito com tanta piada. De mau gosto, é claro! Mas que nos fazem rir.
Hoje, temos uma certeza: quem disser que o horário eleitoral gratuito é ruim ou inútil é porque não aprendeu a utilizá-lo da melhor forma.
Domingos Oliveira Medeiros
12 de fevereiro de 2002