Dei três voltas na casa e você não está aqui. Abri armários, virei garrafas, tateei paredes, liguei tvs, escovei os dentes, destampei a manteiga, procurei CDs, folheei livros, acendi as luzes, fumei, fumei, cheirei, cheirei, lembrei de coisas que não devia, e não te achei. Saiu batendo a porta com seu carro pra não ter de pensar em mim. Não me culpe se depois de tanto tempo ainda não fiz um poema pra você, porque de todos o mais bonito é seu. Te dou assim. De graça. Vê aquelas estrelas no céu? Eu tô lá no meio do povo te espiando. Lembra do dia em cruzamos os olhos? Minhas mãos começaram a acelerar e o meu coração a suar, ou será que foi o contrário? Teu rosto FREEZE congelou assim na minha memória. Ali. Em cores. E tá tão escuro. Câmera lenta. Você vai demorar? Cabelos negros. Magrinha. Olhos de noites árabes. Você queria ser a única. Eu queria ser tudo. E tome briga. Daí veio a casa. Cachorros. Gatos. Família. Dias de trabalho. Dias de sol. Tardes de sábado. Eu tô te esperando. Talvez ser feliz seja isso, eu é que não percebi. A que horas você vai chegar, meu amor? Dá pra escrever de amor sem se melar? Ou precisa ser poeta maior? Meu coração dorme ao lado do teu, e isso não é pouco. Meu corpo sua grudado no teu, e isso é tudo que levaremos. Nossas mãos fazem a mesma sombra no papel. Eu te amo, moça, isto é tudo que posso dar. Use à vontade.
